O primeiro-ministro belga, Yves Leterme, ofereceu hoje, pela quinta vez, sua renúncia. Ele não conseguiu superar a mais recente disputa entre a maioria falante de holandês e a minoria que fala francês no país.
Nesta manhã, um dos parceiros da coalizão de Leterme, os Conservadores, da parte holandesa (ou flamenga), deixou a administração. "Nós perdemos a confiança no governo", afirmou o presidente desse partido, Alexander De Croo. A mudança deixa o primeiro-ministro sem opções além de entregar sua renúncia ao rei Albert II. Com isso, o dividido país de 10,5 milhões de habitantes pode sofrer novamente com o caos político.
Leterme passou esta tarde (horário local) em uma reunião com o rei e diversos grupos políticos. A crise pode levá-lo a um compromisso para refazer a coalizão. Pode também ser apontado um novo primeiro-ministro ou ainda a convocação de eleições.
A crise ocorre em um momento ruim para a Bélgica, dez semanas antes da data prevista para o país assumir a presidência rotativa da União Europeia (UE). A presidência belga também pode ser uma vitrine para Herman Van Rompuy, ex-premier belga e hoje o primeiro presidente da UE. Leterme, de 49 anos, estava ocupado organizando uma partida de tênis promocional entre as estrelas nacionais Justine Henin e Kim Clijsters quando recebeu a notícia.
A Bélgica também enfrenta problemas para a retomada de sua economia, para cortar o déficit orçamentário e lidar com as recentes restrições aos voos por causa da erupção vulcânica na Islândia.
Disputa
No centro da atual disputa está uma briga envolvendo os subúrbios de Bruxelas. A maioria falante do holandês quer que essas áreas sejam divididas, o que forçaria moradores desses subúrbios a usar o holandês em tribunais, por exemplo. Além disso, eles só poderiam votar em políticos concorrendo por Flanders. Mais importante ainda, essa seria uma vitória simbólica dos políticos flamengos, que querem mais autonomia para essa região.
O assunto atormenta Leterme desde seu partido ter ganhado as eleições em 2007. Foram necessários nove meses para ele conseguir formar uma coalizão. O primeiro-ministro já ofereceu sua renúncia cinco vezes, mas só deixou o poder temporariamente uma, por seu papel na ajuda oficial ao Banco Fortis.
De Croo havia ameaçado várias vezes deixar o governo, a menos que os partidos de língua francesa desistissem dos subúrbios em Bruxelas. "Os partidos flamingos estão fazendo roleta-russa", rebateu Olivier Maingain, membro da francófona Frente Democrática.