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Segurança

Pelo fim do perigo atômico

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Estados Unidos e Rússia continuaram tendo a maioria das bombas atômicas do mundo |

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Estados Unidos e Rússia continuaram tendo a maioria das bombas atômicas do mundo

Além de mostrar uma boa-vontade inédita em relação à segurança mundial, o no­­vo acordo entre Estados Uni­­dos e Rússia para redução do arsenal nuclear, firmado na última quinta-fei­­ra, reafirmou a predileção do presidente americano, Barack Obama, por reforçar momentos simbólicos. Obama e o presidente russo, Dmitri Med­­vedev, fizeram o cerimonial de assinatura do Tratado para Redu­­ção de Armas Estratégicas (Start, na sigla em inglês) em Praga, na República Tcheca, uma das cidades basilares da Cortina de Ferro (grupo de países na Europa Cen­­tral que dividiam o mundo co­­munista do Ocidente), a partir de onde EUA e Rússia apontaram mísseis atômicos um contra o outro durante 40 anos.A escolha da cidade-sede do tratado induziu a imprensa in­­ternacional a relembrar o discurso feito pelo presidente americano naquela mesma cidade, um ano atrás. À época, um Obama recém-empossado e ainda sem o Nobel da Paz subiu ao palanque em frente a 30 mil pessoas e clamou por um mundo sem armas nucleares, embora confessando que talvez não vivesse o suficiente para ver seu desejo realizado.Obama se mostra um pragmático-realista da causa nuclear. Os Estados Unidos foram os in­­ventores da bomba atômica e a única nação a jogá-la sobre um inimigo de guerra, massacrando as cidades de Hiroshima e Naga­­saki no final da 2ª Guerra Mun­­dial. Sessenta e cinco anos de­­pois, a quantidade de países que detêm a bomba pode chegar a uma dúzia, totalizando 23 mil ogivas nucleares (veja no gráfico abaixo). Para forçar o caminho da volta, Obama tenta liderar pelo exemplo pró­­prio. Ao se prontificar a fazer o primeiro movimento maciço de redução, ele espera sensibilizar o mundo para o anacronismo dos estoques atômicos.

"O novo Start é um elemento-chave nos esforços globais para impedir a disseminação de ar­­mas atômicas. O acordo mostra que os Estados Unidos planejam tomar a liderança no combate aos perigos representados pelas armas nucleares. As reduções de armas atômicas planejadas pelos EUA e pela Rússia podem forçar os americanos a aumentar seus esforços para conquistar o apoio internacional para medidas de não-proliferação em outros países", estima à Gazeta do Povo Kingston Reif, diretor de não-proliferação nuclear do Centro para Controles de Armas de Wa­­shington.

Ele refuta o contra-argumento elaborado pela oposição à Ca­­sa Branca que prevê que, caso os Estados Uni­­dos re­­duzam seu arsenal atômico, o país vai enfraquecer sua posição perante o mundo. "O Start permite que os Estados ainda mantenham um arsenal robusto e flexível o suficiente para intimidar qualquer ataque", avalia.

Etapas

O acordo bilateral é a primeira de uma série de investidas de Obama contra a manutenção dos estoques nucleares. Complementar ao acordo com a Rússia, o governo americano autoimpôs novas limitações para um possível uso de suas armas. A partir de agora, as bombas americanas só se transformarão em nuvens de cogumelo se o país sofrer um ataque inimigo em que for usado o mes­­mo artefato.

Além disso, Washington recebe nesta segunda-feira o En­­con­­tro de Segurança Nuclear – um evento que surgiu como desdobramento do discurso de Praga. Durante dois dias, mais de 40 líderes mundiais (Brasil inclusive, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva), tentarão criar um embrião de consenso para a eliminação definitiva das armas nucleares.

Este evento será preparatório para a Conferência de Revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), a ser realizado em maio na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.

A revisão é feita a cada cinco anos e conta com a presença dos países signatários do tratado (o mundo todo me­­nos Israel, Índia, Paquistão, Taiwan e Coreia do Norte).

Para Miles Pom­­per, pesquisador do Centro James Martin para Estudos de Não-Proli­­feração, sediado na Ca­­lifórnia (EUA), a revisão do tratado vai agregar mais responsabilidades aos membros do acordo. "Países como o Brasil estão hesitando em assumir compromissos adicionais perante o TNP por acreditar que os países nucleares, como os Estados Unidos, não estão fazendo a sua parte.

Ado­­tando novos compromissos, os Estados Unidos estão mostrando que são capazes de ceder mais e torcem para que outros países se encorajem a fazer o mesmo", declarou ele à Gazeta do Povo.

Enroscos

Durante o encontro da próxima segunda, Obama também começa um esforço para tentar dobrar os paíse s que ainda são ariscos ao controle sobre as armas nucleares. As duas principais preocupações, Irã e Coreia do Norte, não enviarão representantes ao encontro. A diplomacia americana espera, com isso, ressaltar o isolamento que estes países estão se impondo ao insistir em deixar seus programas nucleares em se­­gredo. Como resposta, o presidente iraniano, Mah­­moud Ahma­­dine­­jad, prometeu organizar a sua própria conferência.

O caso norte-coreano é ainda mais delicado. Único país a abandonar o tratado, em 2003, a Coreia do Norte conduz uma política nuclear sigilosa.

Os Estados Unidos estão convictos que o regime do ditador Kin Jon-Il tenha armas atômicas, mas não sa­­bem precisar o tipo e a quantidade do armamento.

Segundo Thomas Heye, coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal Flumi­­nense, o TNP carece de modificações para se adaptar ao cenário geopolítico atual.

"O atual regime internacional representado principalmente pelo TNP revela-se ultrapassado e ineficaz. No caso do Brasil, que almeja e necessita dominar alguns aspectos relacionados à energia nuclear – como, por exemplo, a produção autônoma de combustível para o projeto do submarino nuclear – o tratado vem assumindo contornos que restringem a liberdade e a soberania do país nesta área. A questão nuclear é politicamente sensível, porém fundamental para o avanço do conhecimento científico brasileiro."* * * * *

Interatividade

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