O número de mortos em um incêndio que destruiu na sexta-feira (2) à noite um armazém onde um coletivo de artistas de Oakland, Califórnia, participava de uma festa subiu no domingo para 33, após uma nova inspeção no local, segundo um balanço provisório da polícia.
“Quando começamos esta investigação, se você nos contasse que eram 33 vítimas, nós não acreditaríamos”, disse o sargento da polícia Ray Kelly, acrescentando que a identificação dos corpos levará tempo. Ainda não se sabe a causa do incêndio.
Os bombeiros trabalharam durante 12 horas para entrar no edifício por meio de uma brecha aberta em uma parede, explicou uma chefe do batalhão de bombeiros da cidade, Melinda Drayton. “Será preciso vários dias para vasculhar todo o prédio”, que é um armazém transformado por um coletivo de artistas em um local de trabalho e moradia.
No sábado (3) à tarde, os socorristas precisaram sair do edifício, em razão do risco de desmoronamento. Ainda não se sabe a causa do incêndio, ocorrido durante uma festa de música eletrônica da qual participaram entre 50 e 100 pessoas. Alguns dos desaparecidos são estrangeiros, o que torna mais difícil a identificação das vítimas, que têm entre 20 e 30 anos.
Um centro de assistência familiar foi estabelecido para reunir informações sobre as pessoas desaparecidas e informar os parentes. Nas redes sociais, parentes buscavam informações sobre os participantes na festa. O Facebook também liberou o dispositivo que permite que seus inscritos confirmem em um clique se estão seguros.
Construções ilegais
A investigação deverá estabelecer se os proprietários do armazém e seus ocupantes tinham todas as autorizações necessárias para utilizar o local. Algumas testemunhas relataram que artistas viviam no local, mas o edifício deveria funcionar apenas como “local de trabalho”, segundo a prefeita de Oakland, Libby Schaaf.
“Vai levar tempo até que toda a investigação seja concluída, mas as famílias têm o direito de saber o que aconteceu”, declarou. O armazém tinha várias divisórias que haviam sido acrescentadas, e uma escada construída provisoriamente. Algumas das mudanças na estrutura tornaram extremamente difícil escapar do incêndio, explicou a chefe do corpo de bombeiros, Teresa Deloach-Reed, em entrevista coletiva.
Uma autoridade municipal indicou que a prefeitura investigará “construções ilegais” realizadas no interior do armazém, chamado de “Ghostship” (nave fantasma). O fogo, que foi controlado na manhã de sábado, “propagou-se muito rapidamente”, segundo Teresa. “O teto caiu e há grandes escombros que precisam ser removidos”, assinalou.
Quando os bombeiros entraram no armazém para combater o fogo, se depararam com uma grande quantidade de móveis e objetos artísticos, que atrapalharam o trabalho. “Estava lotado de móveis e outras coisas, coleções (...) era quase como um labirinto”, declarou Teresa Deloach-Reed, que também descreveu uma “escada artesanal como uma gaiola” de acesso ao primeiro andar, onde a maioria das vítimas foram encontradas.
Senti minha pele sair
Nenhum detector de fumaça parece ter sido ativado durante o incêndio. O fotógrafo Bob Mule, frequentador do local, disse à rede de TV KTVU que não conseguiu acionar o extintor. Ele também contou que tentou ajudar um amigo, antes de desistir, “Sentia a minha pele sair sob o efeito do calor”, declarou.
Oakland é uma cidade de 420 mil habitantes situada diante de San Francisco, do outro lado da baía de mesmo nome. Apesar de já ter tido fama de cidade insegura, hoje atrai setores em busca de aluguéis mais baratos do que em San Francisco.
Em 20 de fevereiro de 2003, um incêndio causado por fogos de artifício em uma boate de West Warwick, nordeste dos Estados Unidos, causou a morte de 100 pessoas. O incêndio mais trágico em nível nacional durante um espetáculo remonta a 1903, quando 602 pessoas morreram no Iroquois Theater de Chicago, segundo a National Fire Protection Association.