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Incêndio destruiu a Estação Comandante Ferraz, base mantida pela Marinha e utilizada para pesquisas científicas brasileiras na Antártica. Imagem de 2004 | Ana Nascimento / Agência Brasil
Incêndio destruiu a Estação Comandante Ferraz, base mantida pela Marinha e utilizada para pesquisas científicas brasileiras na Antártica. Imagem de 2004| Foto: Ana Nascimento / Agência Brasil
  • Imagem da Estação Antártica Comandante Ferraz com o Morro da Cruz ao fundo. A foto é de 2004

Pelo menos cinco pesquisadoras da Universidade Federal do Paraná (UFPR) estavam na Estação Comandante Ferraz, na Antártida, e viram de perto a destruição da base científica no Pólo Sul na madrugada deste sábado (25) devido a um incêndio. Elas fazem parte do grupo de cerca de 40 pessoas, entre civis e oficiais da Marinha, que estavam no local participando de missões científicas e militares. O incidente resultou na morte de dois militares e um terceiro ficou ferido. Os outros brasileiros estão bem e já foram resgatados. O grupo está sendo levado para Punta Arenas, no Chile, de onde um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) deve trazê-los de volta ao Brasil.

Das cinco paranaenses, quatro delas fazem parte do Laboratório de Biologia Adaptativa do Departamento de Biologia Celular da UFPR: Cintia Machado (doutoranda em Biologia Celular e Molecular); Nádia Sabchuk (mestranda em Ecologia e Conservação); e Maria Rosa Pedreiro e Priscila Krebsbash (ambas mestrandas em Biologia Celular e Molecular). Todas estavam na Antártida para estudar peixes.

A quinta pesquisadora da UFPR é a professora sênior Therezinha Absher, ligada ao Centro de Estudos do Mar (CEM) no litoral do estado. Ela estuda organismos bentônicos (que vivem associados aos sedimentos), principalmente ostras. Pessoas consultadas pela reportagem, disseram que a professora Absher dificilmente viaja sozinha para a Antártida, porém não foi possível confirmar até a noite deste sábado se algum aluno dela acompanhava-a nesta viagem.

A coordenadora da pós-graduação em Ecologia e Conservação da UFPR, Lucélia Donatti, veterana em estadias na Antártida para pesquisas, disse que as qutro pesquisadoras do setor de Biologia estão bem e todos os familiares delas já foram contatados para tranquilizá-los. Segundo ela, a professora Cintia ligou por volta das 2h30 deste sábado (o incêndio começou perto das 2h) para avisá-la do acidente. "Lá na estação a comunicação é muito boa. A internet e o telefone funcionam bem. Quando ela (a Cintia) viu que a coisa estava séria, ela me ligou para tratar de coisas pessoais, como avisar os familiares e falar sobre os passaportes", contou.

Apesar das paranaenses não terem ficado feridas, elas perderam vários objetos pessoais, inclusive documentos. Porém, a professora lembra que a maior perda será científica já que todo o material coletado durante o período de "verão" no Pólo Sul foi queimado. A fase mais intensa de pesquisa dura de novembro até o início de março. Portanto, as pesquisadoras retornariam nos próximos dias com as coletas realizadas até agora. "Quando você vai para lá recebe licenças para coletar bichos, abater animais, etc. O material que era da Federal nós perdemos tudo", falou Donatti.

A professora lamentou ainda a perda de equipamentos e do investimento realizado pelo país no Projeto Antártico Brasileiro, mas ele se mantém otimista. "Não é que o programa acabou (com o incêndio) porque a estação era uma base. Há vários pesquisadores de diversas áreas fazendo trabalhos em pontos diferentes da Antártida", declarou.

Retorno

Durante este sábado, as cerca de 40 pessoas que estavam na estação foram transferidos de para a base chilena Eduardo Frei, ainda na Antártida. Brasil e Chile têm uma forte parceria e cooperação na região. De helicóptero, a viagem dura cerca de 20 minutos e de navio cerca de 2h30. Ainda não há confirmação, mas é provável que todos tenham sido resgatados de helicóptero.

Desta base chilena, o grupo de brasileiros será levado para a cidade de Punta Arenas com um avião da Força Aérea Argentina (FAA) em uma viagem de até cinco horas. Durante a tarde de sábado, o Ministério da Defesa do Brasil informou que uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) irá buscá-los para trazê-los de volta ao país. O vôo saiu perto das 16 horas do Rio de Janeiro e deve pousar em Punta Arenas no início da madrugada deste domingo. A previsão é que eles retornem ao aeroporto do Galeão ainda neste domingo, mas ainda sem horário certo. É possível que ainda neste domingo, os pesquisadores paranaenses cheguem a Curitiba.

Dois militares morreram

O Ministério da Defesa confirmou no início da noite deste sábado que foram encontrados os corpos dos dois militares desaparecidos desde a madrugada na Estação Comandante Ferraz. O suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e o primeiro-sargento Roberto Lopes dos Santos estavam desaparecidos após o incêndio que atingiu o local por volta das 2h na praça de máquinas, onde ficam os geradores de energia. Os dois participavam do grupo de apoio que tentava apagar o incêndio.

O primeiro-sargento Luciano Gomes Medeiros ficou ferido e foi transferido para a base chilena. O ministro da Defesa, Celso Amorim, recebeu a informação de que os corpos foram encontrados pelo comandante da Marinha, almirante-de-esquadra Júlio Soares de Moura Neto. A Força Naval enviará uma equipe de peritos para identificá-los com exatidão e confirmar os óbitos. "Num ato de heroísmo, eles estiveram justamente no local de maior risco, na tentativa de debelar o incêndio e não conseguiram. Todos os pesquisadores e funcionários civis foram resgatados e já se encontram no continente, no Chile, e amanhã (26) já devem estar de volta ao Brasil", disse Amorim.

Limpeza

O Ministério da Defesa informou ainda que doze militares da Marinha, inclusive o comandante da base, ficaram na base chilena, que é vizinha à brasileira na Ilha Rei George, na Antártida. Eles devem retornar a Comandante Ferraz, para ajudar no trabalho de perícia e no resgate dos dois corpos. Um navio da Marinha brasileira também se deslocou para a Ilha Rei George, para ajudar na tarefa.

A coordenadora da pós-graduação em Ecologia e Conservação da UFPR, Lucélia Donatti, disse que o principal desafio depois do resgate é fazer a limpeza da base brasileira, já que ela está instalada em uma área sensível ambientalmente. "A prioridade vai ter que ser a limpeza para não danificar o meio ambiente antes da chegada do inverno", afirmou.

O ministro Celso Amorim, disse em entrevista à Agência Brasil, que os planos de reconstrução da base começam segunda-feira.

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