Centenas de manifestantes ocuparam a Praça Tahrir no Cairo pelo sexto dia consecutivo nesta quarta-feira (28), exigindo que o presidente Mohamed Mursi revogue um decreto que eles alegam dar ao presidente poderes ditatoriais, enquanto dois dos tribunais superiores do Egito pararam de trabalhar em protesto.
Passados cinco meses do início do mandato do líder islâmico, e em cenas que lembram a revolta popular que destituiu o antecessor Hosni Mubarak no ano passado, a polícia disparou gás lacrimogêneo em manifestantes que arremessavam pedras após protestos de dezenas de milhares de pessoas na terça-feira contra a declaração que expandiu os poderes de Mursi e colocou suas decisões acima de uma contestação legal.
Os manifestantes dizem que vão permanecer na praça até que o decreto seja retirado, trazendo novos tumultos a uma nação no coração da Primavera Árabe e oferecendo um novo golpe para uma economia já em dificuldades.
Os Tribunais de Cassação e Recursos do Egito disseram que iriam suspender os seus trabalhos até que o Tribunal Constitucional aja sobre o decreto, que danificou ainda mais a relação já complicada de Mursi com os juízes do país.
Em um discurso na sexta-feira, Mursi elogiou o Judiciário como um todo, mas se referiu a elementos corruptos que visa eliminar.
Um porta-voz da Suprema Corte Constitucional, que anulou o parlamento liderado por islâmicos no início deste ano, disse nesta quarta-feira que o tribunal se sentiu atacado pelo presidente.
"A coisa realmente triste que chateou os membros deste tribunal foi quando o presidente da República se juntou, em uma surpresa dolorosa, à campanha de ataque contínuo sobre o Tribunal Constitucional", disse o porta-voz Maher Samy.
Altos magistrados vêm negociando com Mursi sobre como restringir seus novos poderes, enquanto manifestantes querem que ele dissolva uma assembleia dominada por islâmicos que está elaborando uma nova constituição e que Mursi protegeu de uma revisão legal.
Qualquer acordo para acalmar os protestos de rua provavelmente vai precisar abordar ambas as questões. Mas políticos da oposição disseram que a lista de demandas pode crescer à medida que a crise continua. Muitos manifestantes querem que o gabinete, que se reúne nesta quarta-feira, também seja demitido.
A administração Mursi insiste que suas ações foram destinadas a quebrar um impasse político para conduzir o Egito mais rapidamente para a democracia, uma afirmação que seus adversários rejeitam.
"O presidente quer criar uma nova ditadura", disse Mohamed Sayyed Ahmed, 38 anos, que não tem emprego há dois anos. Ele é um dos muitos cidadãos na praça que está tão irritado com as dificuldades econômicas quanto com as ações de Mursi.
"Queremos a eliminação da declaração constitucional e da Assembléia Constituinte, para que uma nova seja criada representando todas as pessoas e não apenas uma parte", afirmou ele.
O Ocidente se preocupa com a turbulência em um país que tem um tratado de paz com Israel e atualmente é governado por islâmicos que eles por muito tempo mantiveram distância. Os Estados Unidos, um grande doador do Exército egípcio, pediram um "diálogo democrático pacífico".
Duas pessoas foram mortas na violência desde o decreto, enquanto confrontos menores entre manifestantes e policiais acontecem há dias perto da praça Tahrir. A violência também deflagrou em outras cidades.
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