A insistência da presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, de ir a Taiwan apesar da ameaça chinesa escancara diferenças de posicionamento entre o Executivo e o Legislativo dos EUA.
Enquanto o presidente Joe Biden agenda reuniões bilaterais com o ditador chinês, Xi Jinping, deixando claro que apoia a política de "Uma só China", Pelosi reforça seu posicionamento a favor da independência de Taiwan.
Apesar de já ter dito que defenderia Taiwan em caso de ataque chinês e de disponibilizar armas desde a década de 1970, os Estados Unidos ainda não reconhecem a ilha de 24 milhões de habitantes como uma nação independente. Por isso, o analista de Relações Internacionais Igor Lucena destaca que, apesar da visita de Pelosi, "a política americana não se alterou".
Crítica histórica de Pelosi sobre a China
Pelosi denuncia a conduta do Partido Comunista Chinês desde o Massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989, quando protestos contra o governo foram reprimidos pelas autoridades.
Em 1991, Pelosi estendeu uma faixa em preto e branco na Praça Tiananmen, em Pequim, para homenagear as vítimas. A frase dizia "Para aqueles que morreram pela democracia". Desde então, ela é publicamente apoiadora da independência de Taiwan.
Através da viagem de Pelosi, Estados Unidos se impõe
"O presidente Biden tende a respeitar muito mais a política do ex-presidente Richard Nixon em relação à ideia de Uma só China e fazer um novo acordo bilateral com Xi Jinping", reforça Lucena, apontando para o fato de que o Executivo americano não faz uma ofensiva à China.
Mesmo assim, o analista não descarta a possibilidade dos Estados Unidos tentarem, através do Legislativo e de forma sutil, "mostrar força" ao gigante asiático. "Se por um lado o país não quebra as regras com Pequim desde a década de 1970, o Legislativo tem sua independência e vai defender os princípios norteamericanos na região", opina.
"Acho difícil Pelosi ter viajado sem conversar antes com Biden. E ela é do mesmo partido do presidente", lembra Lucena. "É possível sim que essa tenha sido a forma de demonstrar que os Estados Unidos serão duros com a China e não vão se dobrar a regimes autoritários", conclui.