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O Pentágono acusou a Rússia de enviar caças para a Líbia para fortalecer mercenários ligados ao Kremlin que apoiam a milícia do general Khalifa Haftar, que tenta derrubar o governo líbio reconhecido internacionalmente.
Em comunicado divulgado nesta terça-feira (26), o Comando África das Forças Armadas dos EUA (Africom) afirmou que as aeronaves chegaram à Líbia vindas de uma base aérea da Rússia, após passar pela Síria, onde "ganharam nova pintura para camuflar sua origem russa".
O Exército Nacional da Líbia, comandado pelo general Haftar, disputa com o Governo de Acordo Nacional (GNA), reconhecido pela ONU, o poder do país rico em petróleo.
"A Rússia está claramente tentando desequilibrar a situação em seu favor na Líbia. Assim como os vi fazendo na Síria, eles estão expandindo a sua presença militar na África usando grupos mercenários apoiados pelo governo como o Wagner", acusou o general do Exército americano Stephen Townsend, comandante do Africom.
O grupo Wagner de militares particulares, que tem supostas ligações com Moscou, tem apoiado o Exército Nacional da Líbia, segundo um relatório da ONU divulgado neste mês que estimou que entre 800 e 1200 mercenários russos estivessem em combate na Líbia, conforme divulgado por agências de notícias internacionais que tiveram acesso ao documento.
"Por muito tempo, a Rússia negou a dimensão total de seu envolvimento no atual conflito na Líbia. Bem, não tem como negar isso agora. Assistimos quando a Rússia enviou caças de quarta geração para a Líbia - todos os passos do caminho. Nem o Exército Nacional da Líbia nem empresas militares privadas podem armar, operar e manter esses jatos sem apoio estatal - que eles estão obtendo da Rússia", continuou Townsend.
A nota divulgada pelo Pentágono ainda acusa a Rússia de usar o grupo Wagner para "esconder o seu papel direto e oferecer negação plausível de suas ações malignas". O Africom avalia que as ações militares de Moscou "prolongaram o conflito" na Líbia e "exacerbaram as baixas e sofrimento humano em ambos os lados".
De acordo com autoridades líbias, diplomatas e analistas, os caças chegaram na semana passada a uma base no leste do país controlada pelo general Haftar, noticiou o Washington Post.
Autoridades da Rússia negaram o envio dos jatos militares para a Líbia. "Outra história de horror ao estilo dos EUA. Isso é falso e desinformação apresentada no espírito da administração prévia dos EUA. Mais uma vez, os EUA estão tentando dar a cartada da Rússia", afirmou Andrei Krasov, vice-presidente do comitê de Defesa da câmara baixa do Parlamento russo, à agência russa Interfax.
Krasov disse ainda que a posição da Rússia é "bem conhecida", e que o país "quer o fim do banho de sangue na Líbia. Chamamos a todos os envolvidos no conflito a não usar a força e começar negociações".
O ministro de Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, disse mais uma vez nesta terça-feira que Moscou apoia um cessar-fogo imediato e negociações na Líbia. A declaração foi feita em telefonema com um porta-voz ligado a Haftar, segundo nota do seu ministério, divulgada por agências russas de notícias.
A Defesa dos EUA levantou preocupações de segurança "muito reais para o flanco sul da Europa" se a presença militar russa se expandir pela Líbia. "Se a Rússia tomar bases na costa da Líbia, o próximo passo lógico é implantar capacidades permanentes de longo alcance de negação de área anti-aérea", apontou o general da Força Aérea americana Jeff Harrigian, referindo-se a baterias anti-aérea de longo alcance.
A Turquia também tem aumentado a sua presença militar no país em conflito. Em janeiro, o governo de Erdogan enviou tropas à Líbia para apoiar o Governo de Acordo Nacional. A ação da Rússia poderia exacerbar as tensões entre Moscou e Ancara, que agora estavam apoiando lados opostos no conflito da Síria.
O país norte-africano está mergulhado em seu pior conflito desde a morte do ditador Muamar Kadafi em 2011, durante os levantes da Primavera Árabe. O confronto na Líbia escalou em abril do ano passado, quando a milícia de Haftar, apoiado por Egito, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, lançou uma ofensiva para tentar tomar a capital, Trípoli.
Em janeiro, uma conferência em Berlim, com a participação de líderes de 11 países, ONU, União Europeia, União Africana e Liga Árabe, discutiu soluções para o conflito na Líbia. Os dois líderes rivais do país africano, o primeiro-ministro Fayez al-Sarraj e o General Khalifa Haftar, também foram à reunião.