O regime iraquiano não colaborou diretamente com a Al-Qaeda. Essa é a conclusão de um relatório do próprio Pentágono, que agora tem as suas 120 páginas tornadas públicas. Baseado em interrogatórios de Saddam Hussein e de documentos oficiais encontrados no Iraque após a intervenção americana de 2003, o documento contradiz um dos principais argumentos do governo Bush para justificar a intervenção no Iraque.
Segundo o presidente dos EUA, o regime de Saddam Hussein tinha ligações estreitas com a organização terrorista de Osama bin Laden, o líder terrorista responsável pelos atentados de 11 de Setembro de 2001.
A divulgação do relatório do Pentágono ocorreu no mesmo dia em que, numa entrevista a um programa de rádio, o vice-presidente Dick Cheney repetiu a alegação de que a al-Qaeda estava operando dentro do Iraque "antes mesmo de os EUA iniciarem a guerra" sob o comando de Abu Musab al-Zarqawi, terrorista morto em junho do ano passado. Cheney citou a figura de Zarqawi como um exemplo de que, se os EUA deixarem o Iraque, o país "cairá nas mãos da al-Qaeda".
No entanto, os documentos obtidos no Iraque e os registros de interrogatórios de Saddam Hussein e dois de seus então assessores comprovam que o regime do ex-ditador iraquiano não cooperava diretamente com a rede al-Qaeda antes de os EUA invadirem o Iraque.
Segundo o jornal "Washington Post", a divulgação do relatório foi solicitada pelo presidente do comitê dos Serviços Armados do Senado, o democrata Carl M. Levin. Numa nota por escrito, ele disse que o complexo texto do documento mostra, de forma mais clara, que o então subsecretário de Defesa, Douglas J.Feith, escreveu avaliações inapropriadas de inteligência antes da invasão de março de 2003, apontado conexões inexistentes de Saddam com a al-Qaeda.
O relatório, num trecho antes marcado como secreto, afirma que o escritório de Feith assegurou num breifing ao chefe da equipe de Cheney em setembro de 2002 que a relação entre o Iraque e a al-Qaeda era "madura" e "simbiótica", marcada por interesses em comum e evidenciada por meio de cooperação em 10 categorias, incluindo treinamento, financiamento e logística.
Em vez disso, diz o relatório, a CIA concluiu, em junho de 2002, que havia pouco contato substancial entre o regime de Saddam e a rede terrorista, e que havia pouca evidência de uma relação longa entre o Iraque e outros grupos terroristas.
"De um modo geral, o documento não aponta nenhum sinal conclusivo de cooperações específicas. Discussões sobre o assunto são necessariamente especulativas", diz o relatório.
Separadamente, a CIA concluiu ainda que o desenvolvimento de armas de destruição em massa por parte do Iraque seria algo "episódico, esboçado e incapaz de ser corroborado por outros canais", diz o relatório.
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