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Os passos da chanceler Angela Merkel são acompanhados com atenção depois que alguns analistas pediram para a Alemanha assumir os problemas da zona do euro | Thomas Peter/Reuters
Os passos da chanceler Angela Merkel são acompanhados com atenção depois que alguns analistas pediram para a Alemanha assumir os problemas da zona do euro| Foto: Thomas Peter/Reuters

Utopia

Problemas surgem com desigualdade

Com a criação da União Europeia em 1992, o bloco que hoje soma 27 países buscou unidade política e pregou a cooperação e a tolerância à diversidade. O plano era evitar tensões e criar ainda um grupo capaz de ser competitivo e influente na economia mundial, fazendo frente aos EUA (nos últimos anos, a China deve ter entrado nesse raciocínio também).

Falando da Alemanha e da França, Hermes Moreira Júnior, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal da Grande Dourados (MS), diz que, "dependendo do encaminhamento político dos líderes desses países, pode haver um processo de fragmentação e polarização [da Europa]".

Porém, Moreira Júnior arrisca afirmar que a Europa fará tudo para evitar o próprio esfacelamento. "[Tudo] para não se perder um projeto institucional e econômico para o qual os governos europeus dedicaram mais de meio século de seus esforços políticos."

Em um artigo, o cientista político José Luís Fiori, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tascou: "Os europeus estão experimentando na pele a impossibilidade real de suas utopias, ao tentarem construir um governo cosmopolita e contratual a partir de estados nacionais extremamente desiguais, do ponto de vista do poder e da riqueza".

"A crise é do euro e não da Eu­­ropa", diz o professor Másimo della Justina, da Pontifícia Uni­­versidade Católica do Paraná (PUCPR). Ele argumenta que alguns países integrantes do bloco – Grécia e Itália são citadas nominalmente – mostraram um "zelo menor" com as suas economias e não fizeram jus ao euro.

Especialistas internacionais passaram a semana argumentando que uma das saídas possíveis para a zona do euro (e "zona", aqui, pode ser entendida também como "bagunça") é estabelecer uma Europa "de duas velocidades". Para Della Justina, isso já é um fato.

Embora a separação não exista oficialmente, dentro da União Europeia há países com economias mais saudáveis que outras. O que poderia ajudar a Europa, de acordo com o professor da PUCPR, seria a criação de uma autoridade central, um estado supranacional, capaz de disciplinar as economias locais.

Della Justina faz uma comparação. "Assim como existe a América Latina, pode haver uma Europa Latina, em que a cultura se sobrepõe às questões econômicas", diz. Afinal, italianos parecem lidar com sua economia de maneira diferente da dos alemães.

O euro ainda não havia enfrentado uma crise como a atual. Dela, segundo o professor da PUCPR, a União Europeia não sairá incólume. "Os países que não jogarem de acordo com as regras do clube serão excluídos do euro e até da União Europeia", diz.

Haverá mais uma chance para as nações em dificuldades, mas, se elas não se disciplinarem, Della Justina diz que as economias mais fortes (Alemanha foi citada) não deixariam o euro ser carregado para o "inferno".

Esfacelada

"Desintegrar a Europa seria um erro muito grande, uma derrota geopolítica", diz João Basílio Pereima, professor de Macro­­economia na Universidade Fe­­deral do Paraná. "A questão é se a crise atual vai fortalecer ou enfraquecer a UE."

A avaliação de Pereima também é de que países menores como a Grécia terminarão deixando o euro sem afetar o bloco. "Perdem-se os dedos, mas não se perdem as mãos. Porém Itália e Espanha são casos mais complicados", diz.

A fase atual, para o professor, é de rearranjo da zona do euro. Ele também afirma que um poder supranacional poderia ajudar a administrar os problemas. "Seria um grande passo", diz.

Para Javier A. Vadell, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), "sair do euro não é sair da União Europeia".

Vadell aposta em uma centralização europeia. A Alemanha arcar com os custos da crise – algo que foi aventado por analistas, inclusive por Martin Wolf, editor do jornal Financial Times – é politicamente inviável. Como deixou claro a chanceler alemã Angela Merkel ao rejeitar a criação de eurobônus na última quarta-feira.

A perda de credibilidade do euro não significará o fim da UE, nas palavras de Vadell, mas colocará em questão os propósitos que a orientam. A pergunta será: "Qual é a vantagem de ficar na União Europeia?"

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