Rio - O diretor internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró, garante que as perdas da empresa com o novo modelo petrolífero da Venezuela são pontuais e que a proximidade com o governo Hugo Chávez ainda vai render bons frutos à companhia. Ele cita os projetos de Carabobo 1, com reservas provadas de 4,5 bilhões de barris de petróleo (o equivalente a 30% das reservas brasileiras) e de Mariscal Sucre, onde Petrobrás e PDVSA vão procurar reservas de gás natural como exemplos do potencial dos negócios no País. "No curto prazo, a redução de receita vai ser revertida", afirmou. No ano passado, as mudanças contratuais resultaram em uma queda de R$ 370 milhões na receita da Petrobrás no país.
O ano passado não foi favorável aos negócios da América do Sul, houve grandes perdas na Venezuela e na Bolívia.
Nestor Cerveró Na verdade, só tivemos prejuízo nesses dois países. No caso específico da Venezuela, houve redução da atividade que já tínhamos. Em compensação, vamos ter aumento de produção enorme na Venezuela. Por enquanto, o resultado imediato é esse (perda) porque houve uma mudança de contrato e quem tinha um contrato de serviços passou a ter um contrato de produção compartilhada. Em contrapartida, vamos trabalhar em mais cinco campos maduros de produção e mais o campo Carabobo, que tem reserva gigantesca na faixa do Orinoco, mais a parte de desenvolvimento de gás em Mariscal Sucre.
Então o sr. acredita que a perda poderá ser revertida?
As perdas são pontuais, é importante destacar isso no caso da Venezuela. Tínhamos contrato de serviço de 1993, que herdamos da Perez Companc (petroleiraargentina comprada pela Petrobrás no início da década), no qual éramos remunerados não pela produção de petróleo, mas pela prestação de serviços de produção para a PDVSA, na qual existia um bônus pelo desempenho. O governo Chávez reverteu esses contratos assinados em 1993 porque, depois de atingidos determinados níveis de produção, os contratos premiavam as companhias que prestavam serviços. Passamos de um contrato de serviço, no qual éramos remunerados em quatro campos, para a produção compartilhada, na qual 60% do petróleo produzido é da PDVSA e 40% é da Petrobrás. Só que esses 40% têm valor menor do que o do contrato de serviços.
O que muda agora?
Como mantivemos a operação e até por nossa cooperação com o governo venezuelano, já fechamos acordo de produção em mais cinco campos, na mesma base de 60% para eles e 40% para nós. Ou seja, vamos aumentar nossa produção em 40 mil ou 50 mil barris a mais na Venezuela. E vamos iniciar o desenvolvimento de gás, além do projeto de Carabobo 1, que é considerado por todos os analistas como o melhor campo da faixa do Orinoco, com reservas provadas de 4,5 bilhões de barris. É claro que é óleo pesado, que demanda tratamento, mas é petróleo. Então, do ponto de vista de resultado, no curto prazo, a redução de receita vai ser revertida.
Qual será o investimento?
Estamos pensando em investir algo em torno de US$ 2 bilhões, nos próximos quatro ou cinco anos, somente para produzir o óleo. Esse óleo tem de ser pré-tratado e isso vai ser feito pela PDVSA. Esse campo é em terra. A previsão inicial de produção é de 200 mil barris por dia, parte destinada à refinaria de Pernambuco.
No caso de Mariscal Sucre, como estão as negociações? Já definiram as participações?
Tem uma fase exploratória, se bem que boa parte dos campos já está comprovada. Mas lá é uma produção exclusivamente de gás natural. A divisão será 65% para a PDVSA e 35% para a Petrobrás.
E na Bolívia, a empresa espera crescer como na Venezuela?
Não. Falamos de investimentos enormes na Venezuela. Vai ser muito maior do que na Bolívia, até pela própria dimensão de produção na Venezuela.
Por que a Petrobrás não fez propostas para exportar gás boliviano à Argentina?
Porque ainda não tem uma definição de qual vai ser nossa produção. Ainda estamos em uma posição de reavaliação dos investimentos. Nessa fase, não se pode assumir compromissos firmes de fornecer grandes quantidades de gás.
Nestor Cerveró, Diretor internacional da Petrobrás