Na última terça-feira (13), o jornal The Moscow Times informou que o ditador da Rússia, Vladimir Putin, designou seu assessor e ex-guarda-costas Alexei Dyumin para supervisionar a resposta militar à surpreendente ofensiva deflagrada este mês pela Ucrânia na região russa de Kursk.
Não é a primeira vez que o nome de Dyumin recebe grande atenção este ano devido a uma missão designada por Putin: em maio, quando ele foi nomeado secretário do Conselho de Estado russo, começaram especulações de que o ex-guarda-costas de 51 anos, nascido justamente em Kursk, estaria sendo preparado para suceder o ditador da Rússia.
Em 1995, ele se tornou guarda-costas na administração federal russa e trabalhou para o então presidente Boris Iéltsin. Quando Putin se tornou primeiro-ministro e depois presidente interino da Rússia em 1999, iniciando seu reinado que já dura 25 anos, Dyumin passou a proteger o tirano.
Entre suas funções, contam as más línguas, estavam jogar hóquei no gelo com Putin sempre no time adversário, para garantir que o ditador marcasse seus golzinhos.
Dyumin se tornou em 2014 vice-chefe do GRU, as forças de operações especiais russas, e naquele ano teve um papel fundamental na anexação russa da península ucraniana da Crimeia e organizou a retirada do presidente ucraniano pró-Rússia Viktor Yanukovych, após protestos exigindo sua saída devido à sua aproximação com o Kremlin e distanciamento do Ocidente.
Depois, Dyumin foi vice-ministro da Defesa por um breve período, entre o final de 2015 e o início de 2016, e governador da região de Tula entre 2016 e maio deste ano. Em 2023, atuou nas negociações para pôr fim ao motim do Grupo Wagner, liderado por Yevgeny Prigozhin (que morreria numa queda de avião nunca esclarecida algumas semanas depois).
Para completar suas credenciais, Dyumin tem no currículo um item que é padrão entre os aliados mais próximos de Putin: sanções aplicadas pelo Ocidente.
Sofreu medidas do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos em 2018, devido ao seu papel decisivo na anexação da Crimeia, e depois do Reino Unido, por ter criado uma escola de treinamento para uso de drones em 2022 para agentes que realizam missões na Ucrânia.
Quando Dyumin foi nomeado secretário do Conselho de Estado em maio, Serguei Markov, ex-assessor do Kremlin e apoiador de Putin, disse no Telegram que o ato havia “agitado” a “elite da Rússia” e sido interpretado “como uma confirmação de que Dyumin é o futuro presidente da Rússia, o escolhido de Putin”.
Entretanto, alguns analistas são céticos sobre essa questão. Nikolai Petrov, pesquisador do Programa Rússia e Eurásia do think tank britânico Chatham House, lembrou num artigo publicado em junho que outros membros do círculo mais próximo ao ditador haviam sido promovidos antes da guerra e durante o conflito, o que “sugere que Putin não o considera [Dyumin] o melhor entre eles”.
“Em vez disso, a inclusão de Dyumin em listas de possíveis sucessores de Putin parece ser o resultado de uma campanha especial de informação do Kremlin. O objetivo desta campanha permanece obscuro”, afirmou Petrov.
“Putin retém ainda mais poder ao manter as elites e aliados em dúvida, incertos sobre quem está bem cotado e quem não está. A especulação sobre quem pode suceder Putin mais uma vez ressalta a natureza do regime político [russo] como uma autocracia personalista sem um plano de sucessão institucionalizado”, acrescentou o especialista.
Putin exige fidelidade máxima dos seus aliados mais próximos, mas não costuma haver reciprocidade – a prova foi a recente destituição de Serguei Shoigu, antigo parceiro, do cargo de ministro da Defesa, em meio a especulações de que o ditador estaria insatisfeito com os rumos da guerra na Ucrânia. Dessa forma, o destino de Dyumin, como sucessor do tirano ou não, provavelmente estará em jogo em Kursk.
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