Enquanto o peronismo ainda discute se vai lançar o presidente Alberto Fernández ou outro candidato para a eleição de outubro na Argentina, a oposição começa a apresentar seus nomes para tentar tirar a esquerda da Casa Rosada. Na semana passada, o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, anunciou sua pré-candidatura.
“Quero ser presidente para que juntos acabemos com o ódio e transformemos nosso país para sempre”, afirmou Larreta, numa mensagem publicada nas suas redes sociais.
O político de 57 anos é economista e, durante o governo de Carlos Menem (1989-1999), atuou na Subsecretaria de Investimentos do Ministério da Economia e também como gerente-geral da Administração Nacional de Seguridade Social e subsecretário de Políticas Sociais.
Exerceu outros cargos no governo de Fernando de La Rúa (1999-2001) e em 2005 fundou o partido Proposta Republicana (PRO) junto com Mauricio Macri, que depois se tornaria presidente (2015-2019) e que foi sucedido por Larreta na prefeitura de Buenos Aires.
O próprio Macri pode ser um dos adversários do prefeito pela candidatura da coligação oposicionista de centro-direita Juntos pela Mudança, que também deve ter outros postulantes.
Uma pesquisa publicada pelo instituto Opina Argentina em fevereiro, antes do prefeito de Buenos Aires anunciar sua pré-candidatura, mostrou Larreta empatado em primeiro lugar com o deputado outsider Javier Milei e a vice-presidente Cristina Kirchner, com 16% da preferência dos entrevistados cada um.
Num cenário em que o candidato do peronismo seria o ministro da Economia, Sergio Massa, este apareceu liderando a disputa, com 20% das intenções de voto, enquanto Larreta e Milei repetiram os 16%.
Para disputar os votos antiperonistas com Milei, o prefeito portenho tem enfatizado pautas mais conservadoras. No ano passado, ele proibiu o uso da linguagem neutra nas escolas da capital argentina.
“Para promover a aprendizagem da leitura e da escrita, eles [alunos] têm que dominar as normas da língua espanhola, como ela é. Depois disso, caberá a cada indivíduo decidir como quer adaptá-la, mas, na escola, a língua espanhola deve ser respeitada, porque os índices [em avaliações do nível de aprendizado dos estudantes] nos mostram que isso é urgente”, justificou Larreta.
Em janeiro, o prefeito nomeou a ex-deputada nacional Cynthia Hotton, conhecida pela sua militância contra o aborto, como presidente do Conselho Social de Buenos Aires. Larreta afirmou que Hotton e sua equipe “representam valores muito importantes, como a vida, a família, a justiça, a verdade, fundamentais para o nosso país”.
Outro aceno ao eleitorado conservador é a cobrança para que policiais de Buenos Aires possam utilizar armas taser – em dezembro de 2019, o recém-empossado governo de Alberto Fernández revogou a política de uso de armas não letais, inclusive elétricas, promovida por Macri.
A oposição ao atual presidente alega que a permissão para uso desses armamentos poderia ter evitado o assassinato recente de uma policial, morta em uma estação de metrô da capital argentina ao tentar apartar uma briga.
“O governo nacional tem que liberar as importações [de tasers] e permitir que treinemos nossos agentes para que tenham mais ferramentas em situações de grande concentração de pessoas”, disse Larreta. Na semana passada, o Ministério da Segurança informou que estava realizando um processo de aquisição de armas taser.
No vídeo em que anunciou sua pré-candidatura, Larreta alfinetou o populismo peronista e o culpou pela situação econômica dramática do país, que em janeiro chegou a uma inflação interanual próxima dos 100%.
“Muitos me perguntam se eu sonho em chegar a ser presidente. Seria uma honra, é claro, mas não é um lugar ao qual se chega. A presidência deve ser o começo do caminho da grande transformação, que não será realizada por um grupo de iluminados ou um líder carismático. Apostamos no carisma há anos e veja como estamos”, ironizou o prefeito.