• Carregando...
Homenagem ao líder opositor russo Alexei Navalny em Tiblíssi, na Geórgia, nesta sexta-feira (16)
Homenagem ao líder opositor russo Alexei Navalny em Tiblíssi, na Geórgia, nesta sexta-feira (16)| Foto: EFE/EPA/DAVID MDZINARISHVILI

Blogueiro, advogado anticorrupção e ativista político que organizou os maiores protestos em Moscou desde a queda da União Soviética, Alexei Navalny, inimigo número 1 do presidente da Rússia, Vladimir Putin, morreu nesta sexta-feira (16) em uma remota prisão no Ártico.

“Vladimir, o envenenador”, foi como Navalny chamou o chefe do Kremlin em fevereiro de 2021, durante o primeiro dos julgamentos nos quais foi réu e que eram criticados pela oposição russa e pelo Ocidente.

Navalny foi o farol da primeira geração livre na história da Rússia. O Kremlin estava tão ciente disso que, em meio à guerra na Ucrânia, a Justiça russa impôs a última de suas sentenças, que somavam quase 30 anos de prisão.

A prisão não impediu Navalny de condenar abertamente o que ele chamou de “guerra criminosa” na Ucrânia, cujo único objetivo, segundo o líder opositor, é permitir que Putin “mantenha o poder”.

Ele também criticou a mobilização parcial decretada pelo chefe do Kremlin, cujo objetivo seria “envolver o maior número possível de pessoas” na guerra e “manchar centenas de milhares de pessoas com sangue”.

Além disso, ele afirmou que “Putin está perdendo” o conflito e previu “um grande número de mortes (...) no triturador de guerra”.

Navalny aproveitou a impopularidade do conflito para reviver seu movimento político, banido como “extremista”, com o slogan “nenhuma guerra, nenhuma mobilização, liberdade para Navalny”.

Após o envenenamento com Novichok, Navalny foi preso

A paciência do Kremlin com Navalny se esgotou em agosto de 2020. Na época, de acordo com a oposição extraparlamentar, as autoridades russas teriam decidido eliminar o político russo.

“Putin ordenou meu assassinato”, disse Navalny após se recuperar na Alemanha de um envenenamento com um agente tóxico da família Novichok.

A operação secreta dos serviços especiais deu errado, e Navalny conseguiu retornar à Rússia em meados de janeiro de 2021 para desafiar Putin.

Mas o Kremlin estava esperando por ele. As autoridades se aproveitaram de sua recusa em comparecer perante as autoridades em um antigo processo criminal e o mandaram para a prisão.

Dessa forma, Putin se viu livre de outro inimigo, como aconteceu com o então homem mais rico da Rússia, Mikhail Khodorkovsky, preso na Sibéria (2003), ou com o líder da oposição Boris Nemtsov, assassinado em frente ao Kremlin em 2015.

Navalny era a personalidade da oposição com maior peso eleitoral, mas depois de ser vítima de uma tentativa de assassinato pelo Serviço Federal de Segurança (FSB), ele se tornou uma celebridade no exterior.

Adepto das redes sociais, Navalny já estava preparando sua vingança, que veio na forma de três vídeos comprometedores para o Kremlin.

Com a ajuda do Bellingcat e de vários veículos de comunicação ocidentais, ele conseguiu coletar dados que provavam, segundo o político, o envolvimento do FSB em sua tentativa de assassinato.

E não parou por aí, incluindo uma conversa telefônica com um dos supostos participantes da operação secreta que admitiu que seus cúmplices haviam borrifado Novichok na roupa íntima do opositor.

A última revelação polêmica de Navalny sobre o Kremlin foi um vídeo intitulado “Palácio de Putin”, sobre uma mansão na região do Mar Negro que o presidente teria ganhado de presente e da qual um de seus melhores amigos, o empresário Arkadi Rotenberg, admitiu mais tarde ser proprietário.

Tudo isso não apenas expôs o FSB e Putin, mas também foi assistido por mais de 150 milhões de pessoas, um número que contrasta com os 7 milhões que acompanharam a entrevista coletiva anual do presidente no mesmo horário.

Um grito de guerra: “Rússia sem Putin”

Tudo começou no partido liberal Yabloko, do qual Navalny foi expulso por suas opiniões nacionalistas. Mas seu ostracismo durou pouco, pois nas eleições parlamentares de 2011, ele conseguiu organizar os maiores protestos contra o governo desde a queda da URSS, com o grito de guerra “Rússia sem Putin”.

No ano seguinte, ele deu o grande salto para a política ao concorrer nas eleições para prefeito de Moscou, onde obteve quase um terço dos votos, um marco sem precedentes para a oposição extraparlamentar.

A animosidade de Putin, que nunca o chamou pelo nome, decorre das inúmeras ocasiões em que o líder opositor expôs vergonhas dos aliados do Kremlin, denunciando-os nas redes sociais, longe do alcance da censura.

Não havia tabus quando se tratava de denunciar a corrupção na administração pública. Tanto para o primeiro-ministro, Dmitry Medvedev, o presidente do Parlamento ou o de um banco estatal, para o procurador-geral ou a esposa do porta-voz presidencial, o líder da oposição não era mais apenas um incômodo, mas uma ameaça.

Ele foi condenado à prisão por supostos crimes econômicos, e por isso inabilitado como candidato à presidência. Foi atacado fisicamente em várias ocasiões. Mesmo atrás das grades, conseguiu influenciar as eleições com seu programa “Voto Inteligente”, que consiste em escolher entre os candidatos com maior chance de derrotar o candidato do partido no poder.

Pouco depois de pedir votos para qualquer candidato que não fosse Putin nas eleições presidenciais de março, Navalny foi transferido clandestinamente para a prisão do Ártico, onde morreu nesta sexta-feira.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]