O russo Pavel Durov, de 39 anos, criador do Telegram, preso no fim de semana na França| Foto: Dan Taylor/TechCrunch Disrupt Europe Berlin 2013/Divulgação/Wikimedia Commons
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O russo Pavel Durov, de 39 anos, criador do Telegram, foi preso no fim de semana na França, ao chegar a um aeroporto particular perto de Paris.

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Nesta segunda-feira (26), o Ministério Público da capital francesa disse num comunicado que Durov foi preso no contexto de uma investigação judicial aberta contra “uma pessoa não identificada”, iniciada pela unidade de crimes cibernéticos da promotoria em 8 de julho.

A declaração esclarece que a investigação é relativa a 12 acusações, entre elas, cumplicidade em crimes como administrar uma plataforma online para permitir transações ilícitas; posse, distribuição, oferta ou disponibilização de imagens pornográficas de menores; fraude; e aquisição, transporte, posse, oferta ou venda de drogas, além de lavagem de dinheiro e recusa a entregar, a pedido das autoridades competentes, informações ou documentos necessários à realização e operação de interceptações permitidas por lei, entre outras. A plataforma alega que cumpre as leis da União Europeia.

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O empreendedor russo, que se diz um libertário, nasceu em São Petersburgo (à época, Leningrado) em outubro de 1984, quando ainda existia a União Soviética. Quando ele tinha quatro anos de idade, sua família se mudou para a Itália, mas retornou para a Rússia após o fim do comunismo.

Ele se formou na Universidade Estatal de São Petersburgo e em 2006 lançou o VK, uma rede social que chegou a ser chamada de Facebook da Rússia.

Em abril de 2014, Durov postou no VK ordens que recebeu para que a plataforma entregasse ao Serviço Federal de Segurança da Rússia dados pessoais de manifestantes da Ucrânia que exigiam a saída do presidente pró-Kremlin Viktor Yanukovych e para que fosse bloqueado o perfil do líder opositor Alexei Navalny. Ele se recusou, e poucos dias depois foi demitido do cargo de CEO do VK.

Durov declarou que desobedeceu às ordens porque representariam “uma traição aos nossos usuários ucranianos”. “Depois disso, fui demitido da empresa que fundei e fui forçado a deixar a Rússia. Perdi minha empresa e minha casa, mas faria tudo de novo – sem hesitar”, disse o empresário, que, durante os protestos contra o ditador Vladimir Putin entre 2011 e 2013, já havia se recusado a bloquear perfis de usuários críticos ao Kremlin.

O centro operacional do Telegram, um app de mensagens que também é usado como rede social e que, assim como o VK, foi fundado junto com o irmão de Durov, Nikolai, fica em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

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A partir de 2018, o Kremlin tentou proibir o Telegram na Rússia, mas desistiu em 2020. O órgão fiscalizador de comunicações Roskomnadzor apontou em comunicado à época que havia desistido da proibição “em acordo com o gabinete do procurador-geral da Rússia” porque Durov se mostrou “preparado” para cooperar no combate ao terrorismo e extremismo na plataforma.

Hoje, o app é utilizado sem restrições no país. Não se sabe ao certo se houve um acordo com Putin, mas o Telegram é amplamente utilizado pelas autoridades russas, que manifestaram apoio a Durov após sua prisão.

Deputados russos pediram sua libertação e a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse que a Embaixada Russa em Paris está empenhada em ajudar o empresário com os seus problemas com a Justiça francesa.

Durov diz ser pai biológico de mais de cem pessoas

Acusado no passado de permissividade com crimes praticados por meio do Telegram (exatamente a acusação da promotoria francesa agora), Durov costuma alegar que seu app é apenas o aplicativo de mensagens mais seguro – o que inclui proteção contra o Estado.

“Você não pode torná-lo seguro contra criminosos e aberto para governos”, disse em entrevista à CNN em 2016. “Ou ele é seguro, ou não é.”

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Vegetariano que também diz não consumir álcool, drogas recreativas e cafeína, Durov tem um patrimônio de US$ 9,15 bilhões, segundo dados da Bloomberg, e em julho deste ano revelou uma informação pessoal curiosa: disse ter sido informado de que era pai de mais de cem filhos biológicos.

“Como isso é possível para um cara que nunca foi casado e prefere viver sozinho?”, escreveu no Telegram. Ele relatou que há 15 anos um casal de amigos que não conseguia ter filhos lhe pediu que doasse seu esperma. Na clínica, afirmou Durov, o diretor do local lhe disse que havia falta de “doadores de material de alta qualidade”, o que o levou a se tornar um doador frequente.

“Avançando para 2024, minhas doações ajudaram mais de cem casais em 12 países a terem filhos. Além disso, muitos anos depois de eu ter parado de ser doador, ao menos uma clínica de fertilização in vitro ainda tem meu esperma congelado disponível para uso anônimo por famílias que querem ter filhos”, disse Durov, que informou que pretende tornar público seu código genético para que seus filhos biológicos “possam se encontrar mais facilmente”.