Existe uma máxima na política argentina: o peronismo admite apenas um líder e os aliados devem se enfileirar para apoiá-lo. Mas o cenário das eleições presidenciais deste ano é diferente, o que aumenta a expectativa em relação às primárias de hoje, que definirão os candidatos na votação do dia 25 de outubro.
Mais numerosa força política do país, o peronismo chega dividido à votação deste ano. De um lado está o governista Daniel Scioli, favorito e apoiado pela presidente Cristina Kirchner para defender sua gestão. Do outro, duas lideranças peronistas, de uma linhagem “independente”, tentam se mostrar como uma alternativa “nacional e popular” ao kirchnerismo. São eles Sérgio Massa e José Manuel de La Sota, que juntos somam 18% das intenções de voto, segundo as mais recentes pesquisas eleitorais.
Scioli lidera as pesquisas de intenção de voto à frente do favorito para ser o candidato da oposição a Kirchner, Mauricio Macri, do PRO, um partido de centro-direita (leia abaixo as propostas dos favoritos). Em terceiro lugar, Massa e De La Sota representam um espaço que tenta capturar os votos de peronistas que não concordam com o kirchnerismo.
Pesquisa da consultoria Giacobbe y Associados, feita na semana passada com 1,5 mil entrevistados em todo o país, revelou que quase um quinto dos eleitores do país se declara peronista. Um número menor (8%) disse ser kirchnerista.
Campanha
Para o político Júlio Bárbaro, que integrou o governo Kirchner e hoje faz críticas a Cristina, o peronismo chega fraturado pelo kirchnerismo nestas eleições. “O peronismo quer tirar de cima dele o kirchnerismo”, avalia Bárbaro.
Ele lembra que Daniel Scioli, que se declarava fiel ao governo e posava ao lado de lideranças próximas a Cristina, passou a seduzir peronistas históricos. Na semana passada, se encontrou com governadores e prefeitos do grupo político. Depois foi a vez de sindicalistas, outra base de sustentação dos peronistas. “Scioli já conquistou a confiança dos kirchneristas e agora quer se mostrar mais peronista do que kirchnerista”, afirma Bárbaro.
O racha interno está mexendo com a campanha, pois acirrou a disputa por votos dentro do mesmo grupo. Nos últimos dias, enquanto Scioli foi atrás de peronistas independentes, Massa buscou votos no norte, fiel a Scioli. Já o cordobês De la Sota avançou sobre a província de Buenos Aires, território dos outros dois.
“O peronismo independente sabe que Scioli é a cara do governo e apenas quer lhe dar um tom mais simpático”, afirmou De la Sota. “Não tenho dúvidas de que os peronistas, se me virem triunfar nas primárias, vão me acompanhar nas eleições de outubro”.
A grande dúvida é como se comportará o eleitorado peronista depois das primárias. A avaliação é que os governadores peronistas estão indo para o lado de Scioli em uma atitude de autodefesa: sabem que os jovens do movimento ultrakirchnerista La Cámpora começam a entrar nas listas de deputados para deixá-los de fora.
De la Sota diz que seguirá independente, fiel a Sérgio Massa. Acredita que o aliado fará o mesmo se ele vencer as primárias. Companheiros de Massa, porém, têm dúvidas. “Se Sérgio ganhar, vou trabalhar por ele em todo o país”, disse De la Sota, tentando espantar boatos.