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A presidente Cristina Kirchner tenta se consolidar como principal representante do peronismo e deve emplacar seu candidato, Daniel Scioli, na eleição de outubro. Grupo tem mais dois pré-candidatos |
A presidente Cristina Kirchner tenta se consolidar como principal representante do peronismo e deve emplacar seu candidato, Daniel Scioli, na eleição de outubro. Grupo tem mais dois pré-candidatos| Foto:

Existe uma máxima na política argentina: o peronismo admite apenas um líder e os aliados devem se enfileirar para apoiá-lo. Mas o cenário das eleições presidenciais deste ano é diferente, o que aumenta a expectativa em relação às primárias de hoje, que definirão os candidatos na votação do dia 25 de outubro.

Berço em chamas

A proximidade da eleição primária aumentou a tensão na semana passada no berço do kirchnerismo, a província de Santa Cruz. Raúl Cantín, prefeito de Río Gallegos, capital da província, renunciou há três semanas. Seu substituto é do mesmo grupo político. Funcionários da prefeitura estão em greve há mais de quatro meses, afetando a coleta de lixo e outros serviços. Na sexta-feira, servidores queimaram pneus em frente à prefeitura. A sede da prefeitura amanheceu pichada na sexta-feira.

Mais numerosa força política do país, o peronismo chega dividido à votação deste ano. De um lado está o governista Daniel Scioli, favorito e apoiado pela presidente Cristina Kirchner para defender sua gestão. Do outro, duas lideranças peronistas, de uma linhagem “independente”, tentam se mostrar como uma alternativa “nacional e popular” ao kirchnerismo. São eles Sérgio Massa e José Manuel de La Sota, que juntos somam 18% das intenções de voto, segundo as mais recentes pesquisas eleitorais.

Scioli lidera as pesquisas de intenção de voto à frente do favorito para ser o candidato da oposição a Kirchner, Mauricio Macri, do PRO, um partido de centro-direita (leia abaixo as propostas dos favoritos). Em terceiro lugar, Massa e De La Sota representam um espaço que tenta capturar os votos de peronistas que não concordam com o kirchnerismo.

Pesquisa da consultoria Giacobbe y Associados, feita na semana passada com 1,5 mil entrevistados em todo o país, revelou que quase um quinto dos eleitores do país se declara peronista. Um número menor (8%) disse ser kirchnerista.

Campanha

Para o político Júlio Bárbaro, que integrou o governo Kirchner e hoje faz críticas a Cristina, o peronismo chega fraturado pelo kirchnerismo nestas eleições. “O peronismo quer tirar de cima dele o kirchnerismo”, avalia Bárbaro.

Candidatos se dedicam às redes sociais

Nos últimos dias de campanha antes das eleições primárias, os principais candidatos à Presidência optaram por se dedicar às redes sociais

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Ele lembra que Daniel Scioli, que se declarava fiel ao governo e posava ao lado de lideranças próximas a Cristina, passou a seduzir peronistas históricos. Na semana passada, se encontrou com governadores e prefeitos do grupo político. Depois foi a vez de sindicalistas, outra base de sustentação dos peronistas. “Scioli já conquistou a confiança dos kirchneristas e agora quer se mostrar mais peronista do que kirchnerista”, afirma Bárbaro.

O racha interno está mexendo com a campanha, pois acirrou a disputa por votos dentro do mesmo grupo. Nos últimos dias, enquanto Scioli foi atrás de peronistas independentes, Massa buscou votos no norte, fiel a Scioli. Já o cordobês De la Sota avançou sobre a província de Buenos Aires, território dos outros dois.

“O peronismo independente sabe que Scioli é a cara do governo e apenas quer lhe dar um tom mais simpático”, afirmou De la Sota. “Não tenho dúvidas de que os peronistas, se me virem triunfar nas primárias, vão me acompanhar nas eleições de outubro”.

A grande dúvida é como se comportará o eleitorado peronista depois das primárias. A avaliação é que os governadores peronistas estão indo para o lado de Scioli em uma atitude de autodefesa: sabem que os jovens do movimento ultrakirchnerista La Cámpora começam a entrar nas listas de deputados para deixá-los de fora.

De la Sota diz que seguirá independente, fiel a Sérgio Massa. Acredita que o aliado fará o mesmo se ele vencer as primárias. Companheiros de Massa, porém, têm dúvidas. “Se Sérgio ganhar, vou trabalhar por ele em todo o país”, disse De la Sota, tentando espantar boatos.

DANIEL SCIOLI, GOVERNISTA

Favorito para disputar a Presidência pelo grupo governista. Empresário, foi vice do ex-presidente Nestor Kirchner. Confira suas propostas:

- Propõe uma abordagem gradual dos principais problemas da macroeconomia, como inflação, e um controle cambial para os poupadores.

- Reduzir a inflação a um ritmo de 5 pontos percentuais por ano para alcançar um nível de um dígito em um prazo de quatro anos. Os preços, segundo analistas privados, sobem cerca de 25% por ano.

- Redução do déficit fiscal primário, que chegou a US$ 4,365 bilhões em 2014.

- Incentivar investimentos para aumentar as exportações.

- Reduzir impostos para a exportação de alguns grãos, como trigo e milho.

- Negociação com credores que processaram o país, ou os chamados “holdouts”, com firmeza. Espera-se, no entanto, que ele seja mais flexível do que o atual governo.

- A petroleira YPF e a aérea Aerolíneas Argentinas continuarão nas mãos do Estado.

- Aplicação de um projeto para implementar forças policiais locais que complementem a polícia provincial.

MAURICIO MACRI, OPOSIÇÃO

Empresário, engenheiro civil e favorito para ser o candidato da oposição. Foi deputado e é prefeito de Buenos Aires. Veja as propostas:

- Abertura a investimentos estrangeiros, reduzindo os controles comerciais e de câmbio que têm afetado a economia.

- Redução da inflação para um dígito em dois anos.

- Redução do déficit fiscal.

- Abandono das restrições para compra de dólares por poupadores.

- Reforma do órgão de estatísticas Indec, que está sob intervenção do atual governo desde 2009 e é questionado pela credibilidade de seus números.

- Suspensão de limites das exportações do setor agropecuário e eliminação dos impostos às exportações. Eliminação gradual sobre a soja, principal cultivo do país.

- Manutenção da petroleira YPF, principal empresa do país, sob controle estatal.

- Negociação de acordo com “holdouts” para evitar pagar a totalidade da dívida em litígio judicial nos Estados Unidos.

- Criação de uma Agência Nacional Contra o Crime Organizado e desenvolvimento de um sistema integral de estatísticas criminais.

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