O ex-presidente do Panamá Ricardo Martinelli (2009-2014), que foi condenado a mais de dez anos de prisão e multado em mais de US$ 19 milhões (R$ 94 milhões) por lavagem de dinheiro, recebeu nesta quarta-feira (7) asilo político do regime da Nicarágua, liderado pelo ditador Daniel Ortega.
Martinelli, que teve um recurso que visava anular sua condenação rejeitado na Suprema Corte do Panamá, alegou que se considera “perseguido por motivos políticos” e que sua “vida, integridade física e segurança” estão em risco iminente no Panamá, onde, segundo fontes próximas do político, “não há garantias constitucionais, nem lei”.
O regime nicaraguense, que enfrenta uma grave crise política e social desde 2018, quando reprimiu violentamente os protestos contra a ditadura sandinista, concedeu o asilo a Martinelli com base em convenções internacionais de “caráter humanitário” e pediu ao governo panamenho que desse “garantias” para a saída e transferência de Martinelli para o território da Nicarágua.
A condenação de Martinelli em 2023 se deve à compra irregular de ações da editora Epasa, um caso que remonta a 2017. Segundo a acusação, a compra dessas ações da editora foi realizada através de um complexo esquema de sociedades no qual várias empresas depositaram um total de US$ 43,9 milhões (R$ 218,1 milhões), que eram provenientes do pagamento de comissões por obras de infraestrutura realizadas durante o governo de Martinelli. Com parte desses fundos, o ex-presidente teria adquirido a empresa de comunicação, cuja linha editorial defende desde então seus feitos no país.
A sentença por corrupção e lavagem de dinheiro desqualificou Martinelli para ser candidato nas eleições presidenciais deste ano, já que a Constituição do Panamá impede indivíduos condenados a penas de mais de cinco anos de concorreram ao executivo.
A concessão de asilo a Martinelli ocorre também em meio à repressão do regime nicaraguense contra a Igreja Católica, que tem sido uma voz crítica contra a ditadura de Ortega. Desde 2018, a Igreja Católica da Nicarágua sofreu 740 ataques perpetrados por autoridades do regime sandinista, de acordo com um levantamento feito pela advogada Martha Patricia Molina, que acompanha os casos.
Além disso, mais de 170 religiosos e religiosas não estão exercendo seu ministério na Nicarágua porque foram expulsos, tiveram a entrada proibida ou foram enviados para o exílio.
Recentemente a Nicarágua subiu 20 posições no mapa mundial da perseguição religiosa contra cristãos, elaborado pela ONG internacional Missão Portas Abertas, passando da posição 50º posição para a 30º. (Com Agência EFE)