Bill Clinton aparecia com o rosto vermelho de tanta raiva; George W. Bush tem um típico orgulho texano. Ao menos nestes dias prévios à posse, o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, trocou a retórica envolvente por um estilo sóbrio.
As aparições públicas dele desde a eleição, em 4 de novembro, em geral se limitam a entrevistas coletivas para anunciar membros do futuro gabinete, no tom de um trabalhador cumprindo seus deveres, como se assoberbado pelos desafios econômicos e de segurança nacional que o aguardam.
Durante a campanha contra o republicano John McCain, Obama fazia inspirados discursos sobre mudança e idealismo. Agora, se mostra concentrado em tarefas concretas.
"A magnitude daquilo que o país enfrenta derrubaria a retórica de qualquer um", disse a cientista política Linda Fowler, da faculdade Dartmouth. "Acho que o importante é não criar expectativas que o governo não possa cumprir."
Os norte-americanos, até agora, estão de acordo. Pesquisa Reuters/Zogby, divulgada no dia 17 deste mês, deu a Obama 65 por cento de apoio, o que significa a aprovação de muita gente que não votou nele.
Durante a campanha, o candidato e seu grupo adotaram a linha "Obama sem drama". Nunca se mostravam eufóricos nem deprimidos com os fatos do dia-a-dia, enfatizando sempre o longo prazo.
Tal disciplina prossegue.
Contido
Obama só se eriçou uma vez, quando um repórter do Chicago Tribune ensaiou uma pergunta sobre o escândalo envolvendo o governador de Illinois, Rod Blagojevich, acusado, entre outras irregularidades, de tentar vender a vaga do Senado à qual Obama renunciou depois de eleito presidente.
"Deixe-me interrompê-lo agora mesmo, para que você não perca a sua pergunta", disse.
Já Clinton poderia ter embates violentos com a mídia, enquanto Bush continuaria calmo e amigável.
"Esse sujeito (Obama) é muito autocontido", disse Stephen Hess, acadêmico da Universidade George Washington que estuda os presidentes. "Ele é muito disciplinado. De certa forma, é o anti-Clinton."
Em entrevista à revista Time, Obama disse que ocasionalmente se irrita. "Mas não sou de gritar", afirmou.
Quando se decepciona com um funcionário, disse, o melhor é fazer com que essa pessoa se sinta culpada.
"Urrar com as pessoas normalmente não é tão eficaz. Agora, há exceções. Tem vezes em que a culpa não funciona, e aí você tem de usar o medo", disse ele.
Obama montou metodicamente uma equipe que, na opinião da maioria dos especialistas, tem nomes fortes na economia e na política externa para enfrentar a recessão e desafios de segurança nacional, como as guerras do Iraque e Afeganistão.
E, nesse período, tem dito repetidamente que Bush continua governando.
"O que ele está tentando fazer é lançar as bases, dizer: 'Sabemos o que estamos fazendo, e vamos chegar já com a corda toda em 20 de janeiro'", disse o estrategista democrata Jim Duffy.
"Não há nada demais nisso. Ele simplesmente pegou esse período para tentar tranquilizar as pessoas de que 'posso mesmo fazer alguma coisa quando tiver o poder'."