O Peru disse na terça-feira ter identificado mais envolvidos na suposta espionagem militar em favor do Chile, num caso que conseguiu unir governo e oposição em Lima e que abalou as relações entre os dois países.
O primeiro-ministro Javier Velásquez disse que pelo menos seis pessoas, algumas delas foragidas, colaboraram com a espionagem, e que essa informação será enviada nas próximas horas a Santiago para que as autoridades chilenas iniciem uma investigação.
Uma dessas pessoas, um suboficial da Força Aérea peruana, teria fugido para os Estados Unidos com uma informação que poderia ser "muito relevante" no caso de espionagem, segundo o primeiro-ministro.
O presidente Alan García disse na segunda-feira que o caso é "repulsivo" e acusou setores chilenos ligados à ditadura de Augusto Pinochet (1973-90) de estarem por trás da questão.
O Chile, que realiza eleições presidenciais no próximo dia 13, negou a acusação de espionagem e pediu ao Peru que trate do assunto com prudência. O governo de Michele Bachelet também convocou seu embaixador em Lima para que volte a Santiago, em situação "de consulta".
Chile e Peru travaram uma guerra no século 19, e atualmente disputam nos tribunais internacionais o controle de uma área do oceano Pacífico.
O caso de espionagem surgiu quando o governo peruano confirmou que um militar da Aeronáutica, que havia trabalhado na embaixada peruana em Santiago em 2002, havia sido detido e acusado de transmitir informações militares sigilosas ao governo chileno.
Depois da denúncia, García convocou seu embaixador em Santiago para consultas. Grande parte da oposição manifestou apoio à indignação de García, cuja taxa de desaprovação é de 66 por cento.
Para o analista e professor de Sociologia Sinésio López, o caso pode gerar "créditos políticos" para García, embora alguns setores tenham cobrado mais dureza com Santiago.
"Para os peruanos, García reagiu como queriam que reagisse, até a oposição se colocou ao seu lado, e outros querem inclusive um maior radicalismo", afirmou.
Ele acrescentou que, com esse caso, o Peru "se situa como vítima, e de alguma maneira pode suavizar as tensões que tem com outros Estados, como Bolívia e Venezuela, (pois) não creio que nenhum Estado irá dar aval a uma política de espionagem".
O principal líder da oposição peruana, o nacionalista Ollanta Humala, propôs uma atitude mais radical, que incluiria o rompimento de relações com o Chile.
O chanceler José Antonio Belaunde rejeitou tal hipótese e confirmou um encontro de García com a oposição, mas disse desconhecer detalhes da pauta.
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