Nas duas últimas eleições presidenciais peruanas, o candidato Luis García se deixou seduzir por candidatos que alguns chamavam pejorativamente de "desconhecidos".

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"Não tenho medo de gente sem experiência política. É o político tradicional que me preocupa. Sei o que esse faz: representa o rico à custa do pobre", afirmou o operário.

Nos últimos anos, os peruanos demonstram uma inclinação por escolher políticos novatos para a presidência. Alberto Fujimori era um desconhecido reitor de universidade ao ser eleito, em 1990. Seu sucessor, Alejandro Toledo, nunca havia ocupado cargo público até vencer a eleição de 2001.

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A corrida deste ano, liderada pelo neófito Ollanta Humala, não é diferente. Se o ex-militar de 43 anos vencerá o segundo turno ainda é uma incógnita, mas ele claramente se aproveitou do fato de ser visto nas zonas pobres e rurais do Peru como alguém "de fora" da política.

"Estamos cansados dos políticos em Lima que prometem demais e nunca cumprem", disse o comerciante Teodoro Vásquez, da cidade de Tacna (sul), eleitor de Humala. "Precisamos de alguém que possa mudar as coisas, alguém de fora".

Humala ficou em primeiro lugar na votação de domingo. O ex-presidente social-democrata Alan García e a advogada conservadora Lourdes Flores ainda aguardam o final da apuração para saberem qual deles passará ao segundo turno.

Flores teve a seu lado o fato de que os peruanos consideram que as mulheres são em geral mais honestas. Por outro lado, esbarrou na imagem de representante da elite limenha.

A economia peruana deve crescer fortemente em 2006, pelo quinto ano consecutivo, mas a população se sente alienada do progresso. O analfabetismo atinge 35 por cento nas cidades mais remotas dos Andes, e metade dos peruanos não tem acesso a atendimento médico adequado.

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Os peruanos consideram que a classe dominante serve aos interesses da elite branca. Escândalos de corrupção passam de um governo ao outro, e a população está indignada com o salário dos políticos -- um deputado ganha até 8.000 dólares por mês, uma fortuna num país onde metade da população vive com até 1,25 dólar por dia.

Tudo isso aparece no discurso de Humala. "Sou anti-sistema, se o sistema é desemprego, gente fazendo fila em frente às embaixadas para deixar o país, crime e pobreza", disse ele durante a campanha. "Vou contra os políticos tradicionais que governam este país."

Fujimori e Toledo diziam a mesma coisa ao chegarem ao poder. Mas Fujimori fugiu do país em 2000, em meio a um escândalo de corrupção sem precedentes, e Toledo teve vários problemas envolvendo parentes e ministros, o que ajudou a derrubar sua popularidade.

Para alguns peruanos, porém, é importante continuar votando em candidatos "diferentes", para mandar um recado à elite. "É como se a classe alta não quisesse compartilhar conosco", disse o camelô Alan Costa. "Os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres ficam cada vez mais pobres. É como se o sistema fosse distorcido."

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