Brasileiros fazem kit terremoto
O terremoto deixou aterrorizados os brasileiros que vivem no país. Para a maioria deles, essa foi a primeira experiência com o fenômeno, raro no Brasil. Na noite de quarta, o presidente Alan García fez um apelo aos peruanos para que procurassem manter a calma e carregassem consigo uma mochila contendo comida enlatada, medicamentos e documentos.
Foi o que fez a brasileira Brenda Carvalho, de 22 anos, apresentadora de um programa infantil local. Na quinta-feira (16), logo pela manhã, ela foi trabalhar com a sua mochila bem ao lado da mesa. "Estou com o que preciso para qualquer novo incidente", conta.
Brenda estava no meio de um ensaio quando sentiu os primeiros tremores. "Na hora eu pensei que fosse normal, pois sei que eles têm tremores freqüentes. Mas a intensidade começou a aumentar muito e as pessoas começaram a ficar apavoradas", conta.
Brenda disse que sua equipe de produção juntou as 30 crianças que estavam no estúdio e desceram as escadas de emergência do prédio. "Quando chegamos até a rua vimos a imagem do caos. Os postes estavam dançando e os carros se movendo. O céu ficou branco e as pessoas corriam gritando e chorando".
Enquanto conversava com a reportagem do G1 pelo telefone, Brenda recebia ligações no celular de amigos e parentes querendo saber se ela estava bem. "Aqui estamos até agora tentando nos achar, existem amigos que não localizei ainda".
O brasileiro Ed Carlos Lima, de 27 anos, conta que alguns tremores ainda são sentidos. São as réplicas, que ocorrem após um grande terremoto. "Toda vez que o chão treme um pouco as pessoas ameaçam sair correndo. O clima está muito tenso", diz Lima. O gerente administrativo também foi trabalhar hoje com uma bolsa contendo água, lanterna e mantimentos -seu kit terremoto.
O terremoto de 8 graus na escala Richter que assolou a costa do Peru na quarta-feira (15) deixou pelo menos 85 mil desabrigados, além de 510 mortos, segundo os bombeiros voluntários, citados nesta sexta-feira (17) pela rede de TV peruana "América". "O número aumentou e está entre 500 e 510 mortos. Os feridos já passam de 1.600", disse Roberto Ocño, comandante do Corpo de Bombeiros.
"Muitos mortos estão sob os escombros das casas. Nas ruas, muitos morreram, até de infarto", acrescentou à agência France Presse o comandante dos bombeiros, que está trabalhando nas áreas mais afetadas.
A se confirmarem os números, este tremor - de 8 graus na escala Richter - pode ter sido o mais mortífero a ocorrer no Peru nos últimos 37 anos. Em maio de 1970, um terremoto de 7,5 graus causou 75 mil mortes no país. Mas ainda há divergência sobre o número total de mortos. A ONU (Organização das Nações Unidas) fala em 450 vítimas que faleceram e em 1.500 feridos. A intensidade do tremor foi retificada na tarde de quinta-feira pelo Instituto de Geofísica dos Estados Unidos (o USGS), que monitora os sismos registrados em todo o mundo. A entidade elevou a 8 graus na escala Richter a intensidade do terremoto no Peru. Até então estimava-se em 7,9 graus a intensidade.
O maior número de vítimas vem da cidade de Pisco, uma das mais afetadas pelo tremor. Uma igreja lotada de pessoas desabou na cidade, o que pode elevar o número de vítimas. As equipes de resgate ainda tentam achar sobreviventes entre os escombros. "Estamos resgatando as vítimas. A missa estava em andamento e isso provocou muitas vítimas, pois o edifício caiu completamente. Já encontramos sobreviventes e continuamos trabalhando nisso", afirmou Luis Felipe Palomino, da Defesa Civil.
Pequenos tremores ainda atingem o país
O Instituto Nacional de Defesa Civil (Indeci) relatou que, até o momento, computou 16.669 casas destruídas nas regiões de Ica, Lima, Junín e Huancavelica. Desde o terremoto o Peru registrou pelo menos 368 réplicas, segundo o Instituto Geofísico.
O governo mexicano enviará nesta sexta-feira um avião Hércules C130 da Força Aérea ao aeroporto militar de Pisco. O vôo levará "o primeiro pacote de ajuda humanitária do México" aos desabrigados, informou na quinta-feira a Chancelaria mexicana.
O pacote inclui quatro purificadores de água com capacidade de 3.500 litros por hora cada um, além de dois técnicos da Comissão Nacional de Água, uma brigada de 23 médicos, enfermeiras e especialistas em epidemiologia.
Fuga da prisão
Mais de 600 presos fugiram de uma penitenciária na cidade peruana de Chincha (200 km ao sul de Lima) após o terremoto. Eles aproveitaram os danos causados pelo tremor à estrutura do presídio de Tambo de Mora e escaparam através das paredes destruídas.
O vice-presidente do Instituto Penitenciário do Peru, Manuel Aguilar, disse na quinta-feira (16) que apenas 29 internos do grupo de detentos foram recapturados.
Ele confirmou também que o terremoto destruiu parcialmente a penitenciária de Ica, uma das cidades mais atingidas pelo tremor. Mas negou que os presos de lá tenham fugido.