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O presidente da empresa chinesa de tecnologia Tsinghua Unigroup tornou-se o mais recente membro do grupo de executivos chineses sob investigação por conexões com a corrupção no assim chamado Big Fund.
O [assim apelidado] Fundo de Investimento Nacional Integrado da Indústria de Circuitos da China, estabelecido em 2014, é utilizado para desenvolver a indústria de semicondutores do país. A turbulência no setor aponta para uma fraqueza crítica da China.
O presidente chinês Xi Jinping tem boas razões para estar irritado com o desempenho do fundo. Depois de investir bilhões de dólares no desenvolvimento da indústria de semicondutores na última década, a China ainda não foi capaz de reduzir a sua dependência de chips avançados importados de outros países.
Em vez disso, a dependência de chips estrangeiros tem crescido. De acordo com estatísticas da Organização Mundial do Comércio, o déficit comercial da China em circuitos integrados e componentes eletrônicos (incluindo o déficit comercial de Hong Kong) quase dobrou do equivalente a US$135 bilhões em 2010 para US$240 bilhões em 2020.
O crescente déficit comercial nos circuitos integrados revela um fato crucial: o alcance da autossuficiência tecnológica ainda é um sonho longínquo para a China. Para manter suas exportações em crescimento, a China não tem alternativa a não ser continuar importando chips avançados para montar bens de consumo com intensidade em alta tecnologia (isto é, smartphones, tablets e similares).
Apesar de a China (incluindo Hong Kong) ser também o maior exportador de chips de semicondutores do mundo, menos de 7% dos chips produzidos na China foram feitos por empresas chinesas de semicondutores em 2021.
Mais de 90% dos chips produzidos na China são fabricados por firmas estrangeiras. Em outras palavras, as exportações de chips de semicondutores da China são dominadas de forma esmagadora por empresas estrangeiras.
Seu nível inferior de tecnologia é a principal razão para a dependência da China de firmas estrangeiras. Enquanto as firmas chinesas estão atadas a progredir para os chips de 7nm [sete nanômetros], a Companhia de Manufatura de Semicondutores de Taiwan [TSMC, na sigla em inglês] e a Samsung estão avançando para a produção em massa de chips de 3nm este ano. A Intel planeja tomar da TSMC a liderança na tecnologia de semicondutores até 2025.
A competição entre algumas poucas gigantes da tecnologia dos Estados Unidos, Taiwan e Coreia do Sul está clara, [mas] as firmas chinesas não têm boas chances de se qualificar para a competição tecnológica global na indústria dos semicondutores tão cedo.
As restrições dos EUA à exportação de equipamento de fabricação de chips para a maior firma de semicondutores da China, a Corporação Internacional de Manufatura de Semicondutores [SMIC], não apenas impediram o avanço tecnológico da China, como também expuseram os problemas fundamentais de má gestão dentro da indústria de semicondutores do país.
Xi poderia não ter notado o desempenho ruim de sua indústria se a China pudesse ter continuado produzindo chips com equipamento estrangeiro.
A investigação de corrupção é só uma parte de uma série de problemas expostos na indústria de semicondutores da China depois que as restrições dos EUA à exportação ficaram vigentes.
Em 2021, a Tsinghua Unigroup declarou falência depois de anos de investimento massivo em de aquisições sem gerar renda. No mesmo ano, dois produtores de chips proeminentes da China — Manufatura de Semicondutores Wuhan Hongxin e Manufatura de Circuitos Integrados Quanxin — suspenderam suas operações e dispensaram funcionários depois que o fundo do governo foi gasto.
Há numerosos fracassos similares em meio às outras empresas de chips da China.
Vários executivos taiwaneses deixaram a indústria de semicondutores da China no ano passado, o que foi um grande baque no desenvolvimento da indústria de semicondutores chinesa.
A China não apenas gastou vultosas quantias na construção de fábricas de chips e na compra de equipamentos caros, mas também no recrutamento de talentos do exterior. Nos últimos anos, a China recrutou mais de três mil trabalhadores especializados de Taiwan para trabalhar em sua indústria de semicondutores.
A China angariou um capital enorme, além de talentos e equipamento estrangeiro, mas o problema é a governança. A autoridade absoluta de Xi estimulou uma corrida na indústria de semicondutores da China. Além disso, a integração extraordinária dos setores público e privado na China distorceu o desenvolvimento industrial na direção do lucro a curto prazo, em vez de acúmulo a longo prazo de poderio manufatureiro e avanço tecnológico.
A diplomacia do “lobo guerreiro” de Xi lançou ainda mais sobra sobre a perspectiva de sua indústria de semicondutores. O sucesso da China depende de parcerias íntimas com vários fornecedores e consumidores de países diferentes ao redor do globo. Aliená-los na linha de frente geopolítica só termina por minar esses relacionamentos.
O banimento americano à exportação de máquinas de fabricação de chips para a China foi a última gota para a indústria de semicondutores chinesa.
Para além disso, a recém-aprovada nova lei de CHIPS e Ciência dos Estados Unidos [“CHIPS” no caso é também uma sigla em inglês para “Criar Incentivos Úteis para Produzir Semicondutores para os Estados Unidos”; N. do T.] proíbe as empresas de semicondutores que recebem subsídios do governo americano de investir na China nos próximos dez anos. Há grandes brechas nessa proibição, mas se o Congresso conseguir manter a pressão sobre o governo — inclusive pelo endurecimento das restrições legais — isso poderia ter um grande impacto sobre o desenvolvimento tecnológico da China.
Além disso, os Estados Unidos estenderam a restrição à exportação para as máquinas que fazem chips de 14nm para a SMIC e outras fabricantes de chips na China. Um programa específico de automação de projeto de eletrônicos para fazer chips avançados também está banido de ser exportado para a China.
Sem investimento estrangeiro e incentivo, é provável que a China aprofunde a sua dependência da importação de chips avançados do exterior.
As autoridades chinesas levaram uma década para aprender que seu sonho essencialmente depende de incentivo tecnológico do exterior. Quando a importação de tecnologia estrangeira foi barrada, as deficiências internas foram reveladas em um efeito dominó. Em consequência, o sonho se tornou um pesadelo.
As restrições à exportação americanas só aceleraram a exposição da vulnerabilidade interna da China.
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Min-Hua Chiang é economista e faz pesquisa no Centro de Estudos Asiáticos da Heritage Foundation.
©2022 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.