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Efeito Milei

Peso argentino é a moeda com o melhor desempenho do mundo em 2024

O presidente argentino, Javier Milei, em visita à Bolsa de Valores de Nova York, em setembro (Foto: EFE/EPA/JUSTIN LANE)

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O peso argentino fechou 2024 como a moeda com a maior valorização em termos reais no mundo, graças às políticas monetárias do libertário Javier Milei. Apelidada de “superpeso” pela imprensa, a moeda da Argentina registrou uma valorização de 44,2% nos primeiros 11 meses do ano, segundo dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) analisados pela consultoria argentina GMA Capital. O desempenho é bastante superior ao da lira turca, que ficou em segundo lugar no ranking mundial, com 21,2%.

Definida pelo governo, a valorização da taxa oficial de câmbio está sendo replicada nos mercados paralelos (legais e ilegais) em que os argentinos compram dólares, uma vez que o acesso ao câmbio oficial é restrito à população.

A força do peso é percebida pela população da Argentina à medida que os preços de produtos em dólar disparam no mercado interno. Um sanduíche Big Mac, por exemplo, saiu de US$ 3,80 há um ano para US$ 7,90 atualmente.

Os argentinos têm aprovado a tendência de alta. Entre dezembro de 2023 e outubro de 2024, eles viram seu salário médio em dólares quase dobrar, depois de sete anos de depreciação praticamente constante, indo para US$ 990 (R$ 6.133,45), no câmbio paralelo.

“A opinião pública é extremamente sensível ao dólar. Um dólar barato permite que a classe média viaje ao exterior e cria uma sensação de estabilidade”, analisa Lucas Romero, diretor da consultoria Synopsis, ao jornal britânico Financial Times (FT), completando que governos anteriores apostaram pontualmente em um peso forte para obter vantagem em períodos eleitorais.

A reportagem do FT publicada na sexta-feira (27) atribuiu a atual valorização da moeda argentina a “um efeito colateral do esforço de Milei para estabilizar uma economia que estava à beira da hiperinflação quando assumiu o cargo há um ano”.

A publicação britânica destaca que, juntamente com um severo programa de austeridade, Milei manteve os rígidos controles cambiais que herdou, o que garantiu um peso praticamente estável em 2024. Sua política aposta na elevação da competitividade do país por meio da desregulamentação, redução de impostos e melhoria no acesso ao crédito.

O mandatário argentino também espera que a escassez de moeda estrangeira seja reduzida nos próximos anos, à medida que grandes investimentos nas reservas nacionais de lítio, xisto e gás resultem em um aumento das exportações.

Desafios

Analistas ouvidos pelo Financial Times alertam que entre as ameaças à manutenção da valorização do peso argentino em 2025 estão a rápida depreciação do real brasileiro e uma possível onda tarifária dos EUA sob o comando de Donald Trump, considerado um aliado importante por Milei. "Se o novo governo dos EUA impuser grandes tarifas à China, isso desencadeará uma onda de desvalorizações nos mercados emergentes", disse Robin Brooks, membro sênior do think tank Brookings Institution, no X, neste mês.

Nos últimos 54 anos, a taxa média de câmbio na Argentina foi de 1.510 pesos por dólar, em termos ajustados pela inflação. Atualmente, a taxa está em 1.050 pesos por dólar, segundo analisou para o FT o diretor da Equilibra (um think tank econômico em Buenos Aires), Martín Rapetti.

De acordo com o analista, o governo Milei "provavelmente" conseguiria sustentar sua atual política cambial em 2025, com uma recente anistia fiscal levando a um influxo de dólares na economia. Ainda assim, Rapetti considera "altamente improvável" que a Argentina sustente um peso tão alto além do próximo ano.

O teste de fogo para o peso deve acontecer quando Milei suspender os controles cambiais e flutuar a moeda, medida que promete colocar em prática até o fim de 2025.

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