Concepção artística da Via Láctea feita para a Nasa.| Foto: /Nasa

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) indicou outros rumos para o que se pensava da estrutura da Via Láctea. De acordo com estudo recente, a galáxia conta com quatro braços espirais, e não dois, contrariando os últimos dados referentes ao assunto divulgados em 2008 – esses braços facilitam a formação de conjuntos de estrelas.

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A pesquisa foi divulgada na quarta-feira (3) pela Nasa, a agência espacial americana, em seu site.

“A estrutura da Via Láctea sempre chamou a nossa atenção, e esse estudo ajuda a traçar o mapa real da galáxia. Isso pode nos auxiliar no entendimento da formação e evolução de estrelas como o Sol e de planetas”, conta Denilso Camargo, astrofísico e professor do Colégio Militar de Porto Alegre que lidera a equipe que começou a pesquisa no fim de 2014.

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O grupo é composto, ainda, pelos astrofísicos Eduardo Bica e Charles Bonatto. A pesquisa foi divulgada originalmente na versão online da revista científica inglesa Monthly Notices of the Royal Astronomical Society em maio, uma das principais publicações do gênero.

A Via Láctea é formada por um disco achatado (feito de poeira, gases e estrelas), um bojo central (no estilo de um núcleo) e o halo (estrutura que engloba a galáxia como um todo). Além dessa divisão, há os chamados braços espirais. Esses elementos são ondas de compressão de gás e poeira que estão em toda a extensão do disco da galáxia, girando entorno do centro.

“Ainda há muita coisa que não sabemos (sobre os braços), e não é fácil chegar a uma resposta definitiva. Estamos no interior do disco, onde se concentra a maior parte do gás e da poeira da nossa galáxia, o que ofusca a visão”, diz Camargo.

A partir de imagens e dados do telescópio espacial Wise, da Nasa, o grupo identificou diferentes aglomerados de estrelas jovens. Por meio da análise, que se baseia em cálculos e fórmulas matemáticas, foi possível saber a distância em anos-luz e o tempo de vida aproximado dessas estruturas (a maioria delas com cerca de 2 milhões de anos). Geralmente, os aglomerados nascem perto dos braços, pois as nuvens moleculares podem se chocar e se fragmentar, criando estrelas.

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Com essas informações, foi possível traçar um mapa mais completo. Assim, a teoria de quatro braços, chamados Scutum-Centaurus, Perseus, Sagittarius-Carina e Externo, cogitada antes de 2008, ganhou força novamente no mundo científico.

“O acúmulo dos aglomerados jovens perto dos braços foi determinante para chegarmos a esse resultado. Temos convicção que essa é a mais correta configuração da Via Láctea”, ressalta Camargo.

Número controverso

Desde a década de 1950 há estudos de cientistas sobre os braços espirais da Via Láctea. A teoria das quatro estruturas era a mais aceita pela comunidade científica até que, em 2008, uma pesquisa liderada por Robert Benjamin, astrônomo da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, utilizou imagens captadas pelo telescópio espacial Spitzer, da Nasa, e colocou em xeque o tema.

Para Benjamin, era mais provável que houvesse apenas dois braços: Scutum-Centaurus e Perseus (à época, um software que permitiu a contagem das estrelas ajudou a sugerir a existência de apenas dois). Agora, o estudo da UFRGS surge como uma confirmação da antiga possibilidade de quatro braços.

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“A pesquisa anterior teve dificuldades em localizar dois dos braços porque usou estrelas mais velhas, que já tiveram tempo de se afastar dos braços onde nasceram”, afirma Camargo.

A publicação do artigo na revista científica inglesa fez com que o estudo da UFRGS tivesse repercussão internacional. Além da Nasa, que divulgou em seu site a pesquisa, sites especializados em astronomia de diferentes países, como Canadá, Itália, Espanha e Rússia já noticiaram a pesquisa.

Neste ano, esta é a segunda vez que a equipe da capital gaúcha ganha espaço nos meios de comunicação da área. Em fevereiro, foram descobertos dois aglomerados de estrelas a 16 mil anos-luz do disco da Via Láctea, chamados de Camargo 438 e Camargo 439. Esses podem ser os primeiros formados de material proveniente de fora da nossa galáxia.