Recentemente, uma publicação do Fundo Monetário Internacional sobre os desafios dos bancos em relação a evolução da tecnologia nas finanças sugeriu a possibilidade da utilização de dados não financeiros, como “históricos de navegação e condutas em compras online” como meio mais preciso para avaliação de crédito.
A publicação faz eco a uma pesquisa dos mesmos autores sobre Intermediação Financeira e Tecnologia em que destacam o sucesso recente das fintechs em relação aos bancos físicos. A pesquisa contém o devido aviso de que se trata de um documento acadêmico, “que não reflete necessariamente as visões do FMI”, mas revela que os bancos estão atentos às tecnologias de captação de dados desenvolvidos pelas big techs – tecnologias que levantam questões recorrentes sobre a privacidade dos usuários.
Segundo os pesquisadores, as fintechs resolvem o problema da falta de informações financeiras de seus clientes acessando vários dados não financeiros: como o tipo de navegador e o hardware usado para acessar a Internet. Eles também apontam que “uma vez alimentadas por inteligência artificial, essas fontes de dados alternativas são frequentemente superiores aos métodos tradicionais de avaliação de crédito”.
Uma rápida pesquisa nas políticas de privacidade das maiores fintechs do Brasil revela que a utilização dos aplicativos e plataformas online dessas instituições permite o registro de informações como endereço IP, acesso e ações realizadas pelo usuário no serviço disponibilizado, data e hora de cada ação realizada e informações sobre o dispositivo utilizado, tais como a versão de sistema operacional, navegador e geolocalização.
As empresas afirmam que essas informações são relevantes para a segurança do próprio cliente e para o funcionamento adequado do aplicativo. Entretanto, esses dados referem-se à utilização das plataformas da empresa e não a históricos de navegação em geral, como sugerem os pesquisadores.
“A utilização de dados não financeiros terá grandes efeitos na prestação de serviços financeiros. Tradicionalmente, os bancos contam com a análise das informações financeiras dos clientes a partir dos fluxos de pagamento e registros contábeis. O surgimento da internet permite o uso de novos tipos de dados não financeiros do cliente, como históricos de navegação e comportamento de compras online de indivíduos ou classificações de clientes para fornecedores online”, defendem os pesquisadores na publicação.
Os dados seriam incorporados às classificações de crédito por meio do aprendizado de máquina (machine learning), mas os pesquisadores não explicaram em detalhes como pretendem colocar essa ideia em prática. Não é demais afirmar que isso levanta muitas questões sobre a privacidade dos usuários.
Segurança digital
As questões de segurança e privacidade com o imenso volume de dados coletados nas operações digitais (chamado de big data) já é uma preocupação real para os bancos internacionais.
O evento Homens, Maquinas e Ética promovido pelo banco espanhol BBVA e a Universidade de Navarra ressalta que há um “impressionante desenvolvimento de inclusão financeira” com as novas tecnologias. Mas o painel apontou que há um enorme desafio para manter a confiança dos clientes.
“As empresas devem agir com o máximo de diligência e responsabilidade para preservar a segurança, a disponibilidade e o uso adequado dos dados”, aponta a conclusão do painel.
No mesmo evento, Eva Piera, então diretora de Relações Institucionais da BBVA, destacou que com a confiança mútua “os clientes devem perceber que obtêm mais valor adicionado e melhor serviço ao ceder seus dados”.
Contudo, o aumento repentino de uso de serviços online em decorrência das medidas de restrição da pandemia implica mais oportunidades para o cibercrime. É o que revela uma reportagem da revista International Banker.
A maior parte dos ataques são direcionados a clientes bancários, tornando o banco digital terreno fértil para o cibercrime, afirma Ben Hartwig, diretor de segurança e diretor de operações da Web do provedor de dados InfoTrace: “o banco digital torna os bancos vulneráveis a ataques cibernéticos. E os bancos estão enfrentando novos desafios de segurança oriundos da crise da Covid-19”.
Entre as formas de crime, o roubo de identidade é o que suscita a maior preocupação. A Consumer Sentinel Network, que é mantida pelo órgão de proteção ao consumidor dos EUA, registra que em 2019 houve 615 mil roubos de identidade, sendo a fraude de cartão de crédito a mais relatada.
Como garantir que os “dados não financeiros” estejam seguros em um cenário como esse é algo que os bancos ainda terão de responder.
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