A Bolívia realiza, domingo, eleições gerais que devem garantir mais um mandato de cinco anos para o presidente socialista Evo Morales, um dos líderes da esquerda radical na América Latina, ao mesmo tempo em que aprova a continuidade de sua "reforma" indígena. Morales, de 50 anos, primeiro presidente da etnia aymara da Bolívia, teria entre 52% e 54% dos votos, de acordo com duas pesquisas, ou seja, estaria mais de 30 pontos à frente de seu maior rival de direita.
Fora distúrbios esparsos, a campanha ocorreu em clima de tranquilidade em comparação com a polarização de 2008, quando atos em prol da autonomia nas regiões prósperas do leste e violências políticas sangrentas geraram temores de um conflito civil. Evo Morales superou esses obstáculos, aprovou em fevereiro uma nova Constituição com 62% dos votos favoráveis e resistiu ao impacto da crise financeira. Diante dele, a oposição de direita não soube eleger uma figura que lhe fizesse frente: o ex-governador de Cochabamba (centro) Manfred Reyes Villa, 55 anos, reúne apenas 21% das preferências.
Samuel Doria Medina, um empresário e ex-ministro de centro-direita, fica com 9,4% dos votos. "Ironia, o antiliberal Morales, ex-líder sindical, foi elogiado pelo FMI por sua política macroeconômica judiciosa", acusa.
A economia boliviana deve terminar 2009 com o mais forte crescimento da América Latina, a 3,2%. Mas a Bolívia, apesar da grande riqueza de seu subsolo minerais e a segunda reserva de gás da América Latina continua sendo um dos países mais pobres do continente (mais de 60% em situação de pobreza) e depende da ajuda externa do aliado socialista venezuelano, principalmente.
A exploração dos recursos naturais, em benefício do conjunto dos bolivianos em um Estado descolonizado e indigenista, é o projeto central de Evo Morales, para o que ele pede um mandato sem entrave, para adotar a nova Constituição de tom indígena e laico.
O que está em jogo nesta eleição, para a qual estão convocados 5 milhões de eleitores, é o controle do Senado e da Câmara Alta detido pela oposição. Segundo pesquisas, faltam duas cadeiras para o Movimento ao Socialismo (MAS) de Morales conseguir a maioria dos 2/3 de votos necessários para realizar uma emenda na Constituição. E, de acordo com a oposição, conseguir um 3.º mandato.