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análise

Petróleo em alta e dinheiro de refugiados dão alento a Maduro

Partidários do ditador venezuelano Nicolás Maduro comemoram a vitória nas eleições do último domingo, que foram manipuladas | Wilfredo Riera/Bloomberg
Partidários do ditador venezuelano Nicolás Maduro comemoram a vitória nas eleições do último domingo, que foram manipuladas (Foto: Wilfredo Riera/Bloomberg)

Apesar da eleição polêmica, marcada por denúncias de compra de votos e de cooptação de eleitores, o ditador Nicolás Maduro deve ganhar um refresco nos próximos meses. Diante da complicada situação econômica, caracterizada pela hiperinflação – que deve chegar a 13.000% neste ano, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) – e pela forte contração da economia – a estimativa do órgão é de uma retração de 15% no PIB em 2018 –, ele deve se beneficiar da alta nos preços do petróleo e do aumento no envio de remessas de venezuelanos que residem no exterior.

Maduro está se beneficiando das tensões recentes no mercado internacional que vêm causando uma alta nos preços do petróleo. Nas últimas 52 semanas, segundo a agência de notícias Bloomberg, o preço do barril oscilou entre a mínima de US$ 44,48 e a máxima de US$ 72,49. Ontem, estava cotado a US$ 72,47. 

O ditador também ganha com a fuga de venezuelanos para o exterior. Isto contribui para o aumento de remessas para o país e a entrada de moeda forte. Dados das Nações Unidas, citados pelo “Washington Post”, apontam que 180 mil pessoas saíram do país no primeiro trimestre de 2018. No ano passado, foram 270 mil. 

A empresa de análises Consultoria 21 estima que a diáspora venezuelana supere os 4 milhões de habitantes, mais do que a população de alguns dos principais Estados daquele país. O país tem 31 milhões de habitantes.

Sem espaço para contestação

Não há espaço para contestação do resultado.  “A eleição de Maduro era previsível. Ele aparelhou a Justiça, criou uma assembleia constituinte formada por seus partidários e tem o apoio das forças armadas e de segurança”, antecipou, na semana passada, Antonio Quintanilla, da consultoria Prospectiva. Segundo ele, Henri Falcon Lara, o candidato derrotado, só teria chances reais de vencer Maduro se as eleições fossem democráticas. 

O professor Antônio Jorge Ramalho da Rocha, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), não vê espaço para um recrudescimento das manifestações no curto prazo por dois motivos: a oposição está desestruturada e a população está mais preocupada em sobreviver. 87% está na pobreza. “As Forças Armadas também estão mobilizadas e há um forte aparato policial sobre a sociedade”, destaca.

Mas, no médio e longo prazo, com a deterioração da situação social e econômica, o professor da UnB avalia que é possível que as manifestações voltem a ganhar força, por causa do descontentamento da população. 

Legado e crise 

O diretor da consultoria venezuelana Ecoanalítica Asdrubal Oliveros publicou em sua conta no Twitter que o legado econômico que Maduro deixará para a Venezuela é uma inflação que se agrava a cada dia, uma produção petrolífera em queda, a moratória da dívida externa e graves problemas de fluxo de caixa e o colapso dos serviços públicos. 

A tendência é de que a crise humanitária se aprofunde. Duas décadas de políticas socialistas e a má administração governamental, corrupção e desperdício contribuíram para que a maioria dos venezuelanos ficasse em situação de pobreza. As gôndolas dos supermercados permanecem a maior parte do tempo vazias e há falta de medicamentos. 

 Tensões 

O professor da UnB descarta a possibilidade de uma intervenção internacional. O principal motivo é que Maduro conta com o apoio da China e da Rússia – dois países que participam do Conselho de Segurança das Nações Unidas e que têm poder de veto nas decisões do órgão. “A ONU também está em uma situação muito frágil no momento, por causa da questão da Síria”, destaca ele. 

O que deve acontecer, segundo ele, é um aumento nas tensões geopolíticas na América do Sul. Os interesses de russos e chineses tendem a aumentar na região. O país asiático vem investindo fortemente na região, principalmente na busca de fontes de matérias-primas. 

“A polarização com Washington na região deve crescer”, destaca Ramalho da Rocha. O avanço russo e chinês na região coincide com uma perda de interesse americana pela região nos últimos anos. O fenômeno começou no final do mandato de Obama e ganhou força no governo Trump. Em abril, o presidente americano cancelou a participação na Cúpula das Américas e uma visita à Colômbia. E o vice, Mike Pence, suspendeu a visita ao Brasil, que estava programada para o final do mês”, afirma.

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