
O segundo turno das eleições presidenciais chilenas ocorre hoje, em um quadro que não pode ser descrito de outra maneira a não ser como indefinido. O magnata de direita Sebastián Piñera saiu à frente na disputa, mas viu seu rival, o ex-presidente Eduardo Frei, da situação, encostar e embolar a disputa nos instantes finais.
Piñera liderava com mais folga nas pesquisas, mas na última semana da campanha recebeu duas notícias ruins. Primeiro, o terceiro colocado no primeiro turno, o independente Marco Enríquez-Ominami, anunciou seu apoio a Frei, o que pode resultar em votos cruciais para os governistas. Na quarta-feira, uma pesquisa do Instituto Mori apontou uma situação de empate técnico: a sondagem registrou Piñera à frente, com 51%, seguido de perto por Frei, com 49%. A pesquisa tem 3 pontos percentuais de margem de erro, configurando o empate técnico. "O novo presidente terá de continuar com a política dos acordos como tem sido até agora", prevê o cientista político Claudio Fuentes, da Universidade Diego Portales. "Creio que ele vá encontrar um Congresso em que nenhuma das forças é maioria e, portanto, estará obrigado a negociar", avalia.
Os rivais disputam quem será o substituto da presidente Michelle Bachelet, que em seus últimos meses na liderança do país ostenta ótimos índices de aprovação. Bachelet aparentemente não teve tanto sucesso, porém, na transferência de sua popularidade para o candidato da Concertação, que é Frei.
Mudança
A novidade destas eleições sem dúvida é Piñera. O magnata, respaldado pelos mesmos partidos que deram apoio à ditadura do general Augusto Pinochet, obteve 44% no primeiro turno.
Em 2006, Piñera foi derrotado no segundo turno por Bachelet. Apresenta-se como o candidato da "mudança, do futuro, da esperança". Seu programa de governo inclui a criação de um milhão de empregos, a privatização de 20% da Codelco (a gigante estatal chilena do setor de cobre, maior produtora mundial do metal), a colocação de 10 mil policiais nas ruas, o incentivo às energias renováveis, além da melhoria na educação pública, sem deixar de lado o crescimento econômico.
Fadiga
Um país de 16 milhões de habitantes, o Chile ostenta alguns dos melhores indicadores econômicos e sociais da América Latina. Tendo o cobre como sua principal fonte de recursos, o país conseguiu, nos últimos 20 anos de democracia, reduzir a pobreza em 13,5%.
A desigualdade, porém, segue ainda forte no país, apesar do crescimento econômico.
Desde o fim da ditadura, o Chile é administrado pela Concertación. Os críticos afirmam, porém, que essa continuidade já dá sinais de cansaço e tem atrasado os avanços.
Para a situação, apenas a própria Concertación pode manter a trilha de prosperidade. "Quem garante esta vereda e quem garante a continuidade de meu governo é o senador Eduardo Frei", afirmou Bachelet na quarta-feira, em entrevista à rádio Cooperativa.
O fato de Frei já ter sido presidente, entre 1994 e 2000, não conta positivamente, é claro, para os eleitores que querem mudança. Por outro lado, o Chile sem dúvida avançou em vários aspectos durante o governo da Concertación. A opção entre a continuidade com Frei ou mudanças rumo a um ambiente mais liberal com Piñera é o que está em jogo hoje.



