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Chile

Pinochet morreu, mas processos devem continuar

Atualizado em 10/12/2006, às 19h12

A intrincada rede de processos judiciais contra parentes e colaboradores do ditador chileno Augusto Pinochet seguirá adiante, apesar da morte do general que jamais foi condenado, o que deixou uma sensação amarga entre alguns juízes.

Pinochet morreu no domingo, aos 91 anos, devido a problemas cardíacos. Nos últimos anos, ele se livrou de várias condenações por abusos aos direitos humanos e crimes fiscais alegando razões de saúde e incapacidade mental.

``Agora, cabe ditar o encerramento definitivo (dos casos contra Pinochet), mas por morte, e não por inocência. Mas há outros processados no meu caso, e isso segue adiante, sem nenhum tropeço na causa'', disse à Reuters Alejandro Solís, juiz encarregado de supostos crimes cometidos em Villa Grimaldi, um emblemático centro da repressão.

Pinochet, então comandante do Exército, liderou em 1973 o golpe que derrubou o governo socialista de Salvador Allende. Sob seu regime, que durou até 1990, cerca de 3.000 pessoas morreram ou desapareceram, e outras 28 mil sofreram torturas, inclusive a atual presidente do país, Michelle Bachelet.

``A Justiça tem o dever de aprofundar os julgamentos contra quem violou os direitos humanos'', disse a jornalistas Lorena Pizarro, presidente do Grupo de Familiares de Detidos Desaparecidos.

``Devem-se abrir todos os processos que hoje estão sendo investigados e deve-se investigar e punir cada um dos responsáveis por esses crimes'', acrescentou.

No final da vida de Pinochet, a Justiça também autorizou que o ex-militar fosse investigado por suas milionárias contas no exterior, que chegaram a somar pelo menos 27 milhões de dólares, além de crimes de evasão fiscal, falsificação de passaportes e desvio de verbas públicas.

O ditador também era réu em processos na Europa por violações de direitos humanos.

Em alguns dos delitos financeiros também é ré a viúva do ditador, Lucía Hiriart, além de seus filhos Marco Antonio, Jaqueline, Augusto, María Verónica e Lucía, que em janeiro fugiu da Justiça chilena e pediu sem sucesso asilo político nos EUA.

``Agora é preciso ver o tema da participação das outras pessoas, e vários que terão de responder por seus próprios delitos'', disse Rodrigo Véliz, advogado do Serviço de Impostos Internos, um órgão público.

O juiz do caso, Carlos Cerda, está afastado porque a família de Pinochet o acusa de ter ``predisposição'' contra o ditador e seus seguidores.

``É uma pena, porque o Estado do Chile foi incapaz de oferecer à pátria histórica a verdade a respeito das acusações que se dirigiram contra Augusto Pinochet'', disse o juiz a jornalistas.

``O comportamento (dos tribunais) foi excessivamente permissivo diante de atitudes e ações da defesa, que apresentou ações puramente dilatórias e desviantes dos fins próprios do procedimento (judicial)'', acrescentou Cerda.

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