O ex-ditador chileno Augusto Pinochet negou durante interrogatório ter envolvimento em torturas durante seu governo, disse nesta quarta-feira o juiz responsável pelo caso, Alejandro Solís.
O magistrado interrogou pela primeira vez o ex-ditador, como parte da julgamento por suspeita de tortura, além do seqüestro e homicídio de 59 opositores que estavam no centro de repressão Villa Grimaldi. Ele contou que encontrou o militar de 90 anos "bastante bem".
Solís chegou pouco antes das 10h (horário de Brasília) à residência de Pinochet, localizada na zona leste da capital chilena, para interrogar o ex-ditador que governou o país com pulso firme entre 1973 e 1990.
- O general sustenta que não tem responsabilidade nos fatos e que nem sequer conhece as circunstâncias, nem os nomes (neste caso de torturas) - disse Solís a jornalistas.
Solís, que foi acompanhado por sua secretária, interrogou durante uma hora o militar para determinar sua participação ou responsabilidade em 23 casos de tortura e 36 seqüestros, disseram fontes judiciais.
Depois deste procedimento, Solís poderá ter condições de eventualmente resolver o processo de Pinochet e até mesmo decretar sua prisão domiciliar, como ocorreu em outros casos, ainda que de forma temporária.
O interrogatório "é uma diligência muito importante no processo e ainda não tenho opinião sobre o futuro (judicial de Pinochet)", comentou Solís.
Villa Grimaldi, em Santiago, foi um dos centros de detenção e tortura mais emblemáticos da ditadura.
A presidente Michelle Bachelet e sua mãe, Angela Jeria, estiveram entre as centenas de chilenos que foram torturados em Villa Grimaldi entre 1974 e 1977, nas mãos da Dirección de Inteligencia Nacional (Dina), a polícia secreta de Pinochet.
O ex-ditador se livrou por mais de uma vez de enfrentar até o final os julgamentos por violação dos direitos humanos e delitos financeiros, argumentando deterioração de sua saúde e desconhecimento dos atos perpetrados por seus ex-agentes.
O juiz admitiu que "em muitas respostas ele me disse não se lembrar".
Sob o governo de Pinochet, mais de três mil pessoas morreram ou desapareceram, enquanto outras 28 mil sofreram torturas por parte dos aparatos repressores, que foram coordenados principalmente pela Dina.
No sábado, Bachelet e sua mãe visitaram Villa Grimaldi, que foi reformada após a volta da democracia e agora é um parque "pela paz".
Leia mais Globo Online