Os mares do "Chifre da África", onde o Mar Vermelho desemboca no Golfo de Áden e ao largo da Somália no Oceano Índico, já são a zona mais perigosa do globo, mais do que a Malásia.
Toda semana, um cargueiro é atacado por piratas (no domingo passado, foi a vez de um navio grego). A presa nunca falta: 30 mil embarcações cruzam anualmente estes mares, petroleiros do Golfo, cargueiros, iates, pequenos veleiros.
Não há problema de mão-de-obra. Em uma zona miserável como esta, os candidatos a piratas não faltam. Há mais de mil em atividade.
A logística é assegurada por seis "barcos-mães", grandes traineiras russas, que rebocam barcos velozes de seis metros de comprimento, equipados com lança-foguetes. Quando uma presa é apanhada, é conduzida para um "porto pirata", no "Puntland" somali, uma zona "sem lei".
Estas estratégias lembram as que os "piratas clássicos", os "grandes" da profissão usavam no Caribe, nos séculos XVII e XVIII, como Black Beard, com a barba negra e velas acesas nos cabelos para aterrorizar o inimigo nas batalhas noturnas, John Lewis, "o filho do Diabo", Bartholomew Roberts, o belo pirata "esnobe" e "dandy", piedoso, amante da boa música e frio assassino.
A logística era a mesma. Os galeões que levavam da América do Sul ouro, prata e pedras preciosas, eram obrigados pelo regime dos ventos alísios a passar pelo Caribe para chegar à Espanha. Ali os piratas os aguardavam e os atacavam apavorando-os.
Assim que um galeão era avistado, os pequenos barcos dos piratas atacavam e dominavam o barco pesadão, o saqueavam, levavam o ouro para terra, onde realizavam orgias monumentais regadas a rum e com as mulheres mais imorais do globo.
Os novos piratas do Oceano Índico são menos espalhafatosos. Em vez de mulheres fáceis, eles precisam de "khat" esta droga da Somália. Eles mascam tanta droga que a cotação do "khat" subiu enormemente, desde que a pirataria começou a acumular resgates enormes.
Outro ponto em comum entre os flibusteiros do Caribe e os da Somália: os piratas precisam de bases para escapar da Justiça. Nas Antilhas, a Ilha de Hispaniola (hoje dividida por República Dominicana e Haiti), e a Ilha de Tortuga, esconderijo dos "bucaneiros" (inventores da "barbecue" e de muitos coquetéis hoje servidos nos palácios de Nova York, Hong Kong e Saint-Tropez).
Entretanto, há uma grande diferença: os piratas da Somália não são "profissionais". São uns miseráveis, quando muito, pescadores. O último iate abordado na Somália foi resgatado pela Marinha francesa porque os assaltantes se perderam. O capitão do navio seqüestrado teve de ajudá-los a reencontrar a rota. E quando o mar começou a ficar muito agitado, metade dos piratas precipitou-se para a amurada e começou a vomitar no mar.
Não era o que acontecia com os antigos piratas. A "Invencível Armada", a frota espanhola lançada ao mar por Felipe II em 1588, rumo à Inglaterra, acabou dispersada em parte pela tempestade, e principalmente pelo gênio do pirata preferido da rainha Elisabete I, Francis Drake.
As grandes feras das Antilhas, Black Beard ou Rock o brasileiro, Calico Jack, eram uns farristas, mas também marinheiros excepcionais.
Grandeza e decadência! Os pobres somalis de 2008 fariam rir estes virtuoses do mar e da morte que foram John Avery, The Kid, Fly e John Lewis.
Entretanto, mesmo que sejam péssimos marinheiros, os piratas de Áden e do Puntland ameaçam o mundo. Estes mares são uma artéria vital.
Bloqueá-la equivaleria a estrangular o comércio mundial.
A França apresentou um projeto de "força marítima internacional" que escoltaria os barcos e atacaria os piratas. (O que já ocorre secretamente. Uma embarcação americana já afundou barcos piratas Mas o mar é muito grande.) Outra diferença: enquanto os piratas do Caribe praticavam pouco o resgate, porque os tesouros dos incas os satisfaziam, os seus herdeiros proletários da Somália, ao contrário, fazem do resgate seu fundo de comércio.
As tarifas estão "subindo vertiginosamente". Passaram de US$ 50.000, há quatro anos, para US$ 1,5 milhão.
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