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 | Robson Vilalba/Design e Ilustração
| Foto: Robson Vilalba/Design e Ilustração

Centro terrestre funciona como boneca russa

Os pesquisadores em outros lugares descobriram uma variedade de outras surpresas e anomalias. Eles encontraram indicações de que o interior do centro está numa rotação levemente mais rápida do que o restante do planeta, embora os geólogos discordem sobre o tamanho dessa diferença rotacional e sobre como, exatamente, o centro consegue resistir a ser acoplado gravitacionalmente pelo manto ao redor.

Miaki Ishii e seus colegas de Harvard propuseram que o centro seja mais como uma boneca russa do que os modelos em duas partes sugeridos até então. Não só há uma camada externa de ferro líquido que cerca um centro interior, do tamanho da lua, de ferro solidificado, segundo Ishii, como ainda os dados sísmicos indicam que, dentro desse centro interior, há uma outra camada ainda mais interna: uma estrutura de cerca de 600 quilômetros de diâmetro que podem ser quase ferro puro, com todos os outros elementos expelidos.

Em comparação com essa joia gigantesca, até mesmo os mastodontes e ictiossauros do meio da Terra, imaginados por Júlio Verne, parecem brincadeira.

Os pesquisadores do centro da Terra reconhecem que seu elusivo objeto de estudo apresenta desafios, e eles poderiam se sentir tentados a darem chiliques, se não fosse o fato de que a Terra já faz isso por eles. A maior parte do que se sabe sobre o centro da Terra vem do estudo de ondas sísmicas geradas por terremotos.

Como explicado por John Vidale da Universidade de Washington, a maioria dos terremotos se origina nos primeiros 50 quilômetros da crosta terrestre (como também a maioria dos vulcões), e nenhuma fonte sísmica jamais foi detectada a mais de 800 quilômetros. Mas as ondas de energia dos terremotos se irradiam pelo planeta inteiro, passando, detectavelmente, pelo centro.

De fato, alguns temores são mais reveladores do que outros.

"Eu tenho preferência pelos terremotos profundos quando faço um estudo", disse Ishii. "As ondas dos terremotos profundos são tipicamente mais límpidas e bem-definidas".

3,5 milhões de atmosferas é o peso exercido pelo centro da Terra

É como se houvesse 3,5 milhões de céus caindo de uma vez sobre sua cabeça. E as temperaturas atingem 5.500 graus Celsius, tão quente quanto a superfície do Sol.

Como se a história do interior do nosso planeta não fosse quente o suficiente, uma variedade de novas descobertas acabaram de esquentá-la ainda mais.

Os geólogos há muito sabem que o centro da Terra, a quase 3 mil quilômetros sob nossos pés, é uma bola densa e quimicamente envernizada, mais ou menos do tamanho de Marte, e tão alienígena quanto.

É um lugar onde a pressão exerce um peso de 3,5 milhões de atmosferas, como se tivesse 3,5 milhões de céus caindo de uma vez sobre sua cabeça, e onde as temperaturas atingem 5.500 graus Celsius – tão quente quanto a superfície do Sol. É um lugar onde o termo "disposição ferrenha" não faz sentido, considerando que o próprio ferro não consegue se decidir sobre qual forma assumir. Ora fluido, ora sólido, ele se retorce e espirala como um confete líquido.

O centro ajuda a animar o enorme quebra-cabeças de placas tectônicas que flutuam muito acima dele e a erguer montanhas e escavar leitos marinhos. Ao mesmo tempo, os movimentos do ferro do centro geram o campo magnético da Terra, que bloqueia radiação cósmica nociva, guia os navegantes terrestres e ilumina os céus do norte com os fachos das luzes da aurora.

Agora, parece que os modelos já existentes do centro, apesar de dramáticos, podem não ser dramáticos o suficiente. Conforme relatado recentemente no periódico Nature, Dario Alfe da Universidade College London e seus colegas apresentaram provas de que o ferro das camadas externas do centro está dissipando calor, através de um processo dispendioso chamado condução térmica, numa taxa de duas a três vezes maior que as já estimadas.

As consequências teóricas dessa discrepância vão longe. Os cientistas afirmam que alguma outra coisa deve estar acontecendo nas profundezas da Terra para dar conta da energia térmica que falta em seus cálculos. Eles e outros oferecerem várias possibilidades.

Radioativo

O centro pode conter uma quantidade muito maior de material radioativo do que qualquer um suspeitava até então, e pode ser seu decaimento radioativo que produza calor.

Calor

O ferro da parte interna do centro pode estar se solidificando num ritmo assombrosamente rápido e produzindo o calor latente da cristalização no processo.

Química

As interações químicas dentro das ligas de ferro do centro e dos silicatos rochosos do manto sobre ele podem ser muito mais ferozes e energéticas do que se acreditava até então.

Bizarro

Ou pode ser que algo novo e bizarro esteja acontecendo, ainda indeterminado.

"Pelo que dá para ver, as pessoas estão empolgadas" com o relato, disse Alfe. "Elas veem que pode haver um novo mecanismo em ação sobre o qual elas ainda não haviam pensado".

Tradução de Adriano Scandolara.

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