A decisão do presidente americano, George W. Bush, de enviar mais soldados ao Iraque representa sérios riscos, inclusive um aumento imediato das baixas militares, e seu sucesso depende de vários fatores alheios à vontade dos EUA e, além do fato de que precisa vencer, antes de tudo, a forte oposição ao plano em um Congresso liderado por democratas .
Com o envio de aproximadamente 21,5 mil soldados a mais, o contingente dos EUA no Iraque vai superar os 153 mil. Mas os EUA já tiveram uma presença militar ainda maior, e isso não conteve a violência. Segundo dados do Pentágono, o maior contingente foi registrado em janeiro de 2005: 159 mil militares.
Para o cientista político e especialista em relações internacionais Clóvis Brigagão, da Universidade Cândido Mendes, Bush "está cavando sua própria sepultura" e a do Partido Republicano.
Desde aquela época, a situação se deteriorou devido a uma complexa mistura de ataques sectários, insurgentes, de militantes islâmicos e de criminosos comuns. A violência entre xiitas e sunitas, especificamente, se multiplicou desde o atentado de fevereiro de 2006 contra uma importante mesquita xiita de Samarra.
- É uma guerra diferente nesse aspecto - disse John Pike, diretor de informação militar do site globalsecurity.org.
Defensores do reforço militar argumentam que desta vez as forças dos EUA vão controlar diretamente áreas de Bagdá de onde sejam expulsos insurgentes e milicianos. Isso, afirmam, fará toda a diferença.
- A prova dos nove será reter (o território) - disse Tom Donnelly, analista da entidade conservadora Instituto da Empresa Americana, que defende o envio de mais tropas.
Operações anteriores fracassaram porque EUA e Iraque não tinham soldados suficientes para controlar as áreas depois de expulsarem seus inimigos, segundo autoridades americanas.
Donnelly disse que o número de baixas americanas deve subir, ao menos inicialmente, mas pode cair após um período de quatro a seis semanas, caso a operação tenha êxito.
Mais de 3.000 soldados dos EUA morreram e mais de 22 mil ficaram feridos no Iraque desde a invasão de março de 2003.
Anthony Cordesman, um dos mais influentes analistas militares de Washington, disse que a nova estratégia é provavelmente a melhor que Bush poderia apresentar, mas "certamente contém riscos militares e políticos seríssimos''.
O plano de Bush contraria os seus comandantes no Iraque, que eram contra o envio de mais tropas e devem deixar seus postos. A nova estratégia também depende de os iraquianos abandonarem o sectarismo e de o governo local dar o apoio que no passado não existiu.
- Depende das forças iraquianas, que já se provaram muito ineficazes, mesmo nos últimos dias em Bagdá - disse Cordesman, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. - A outra grande questão é: como o povo iraquiano vai reagir? - emendou.
Para Cordesman, a minoria sunita se sente protegida pelos insurgentes, e o mesmo vale para a maioria xiita em relação às milícias. Grande parte da operação depende da reação da população comum à maior agressividade das tropas americanas e iraquianas contra esses grupos.'Ato de desespero'
O governo Bush insiste que agora as autoridades iraquianas se mostram mais comprometidas com a operação e vão garantir as forças necessárias e o apoio político.
Mas alguns analistas acham que não convém depender do primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, cujas promessas de reprimir a milícia xiita Exército Mehdi são freqüentemente questionadas. Para esses analistas, o novo plano de Bush não se baseia no bom-senso militar.
Andrew Bacevich, coronel reformado do Exército dos EUA, atualmente professor de Relações Internacionais na Universidade Boston, acha que o contingente extra foi determinado pelo quanto os militares dos EUA poderiam fornecer, e não pela necessidade real:
- Se você quer aumentar, 21, 22 mil pessoas é um número trivial de soldados para realmente fazer a diferença. É realmente um ato de desespero. Acho que é impossível vencer a guerra e que precisamos começar a nos retirar.