Iates luxuosos ancoram em baías azuis turquesa e pequenos barcos levam famílias endinheiradas com cadeiras e cestas de piquenique para as areias brancas da ilha de Francisqui.
O idílico arquipélago de Los Roques no Caribe venezuelano já foi um esconderijo para piratas. Hoje suas ilhas atraem milhares de turistas por ano com suas baías repletas de palmeiras, corais e águas transparentes. Mas o local pode em breve perder sua aura de exclusividade a medida que o presidente Hugo Chávez planeja levar sua revolução socialista para as ilhas, e usá-las para "turismo popular".
Em contraste com Los Roques, a maior parte da costa venezuelana sofre com o turismo em massa. Latas de cerveja tomam muitas praias perto de Caracas, e uma mistura estridente de música pop e reggae ecoa de carros estacionados nas areias.
Gran Roque é a principal ilha do arquipélago, e há apenas um ou dois veículos nela. Funcionários das pequenas pousadas, muitas delas gerenciadas por italianos, levam as bagagens dos turistas de uma pequena faixa de terra ao lado do mar de onde aviões aterrizam. "Sinto que os proprietários estão com medo", afirmou o gerente de uma pousada em Gran Roque.
Outros demonstram preocupação, mas pedem para não serem identificados com medo de uma represália do governo.
Locais alertam para problemas ambientais
Mas nem todos estão contra a política do presidente. Magalis Rodriguez, uma venezuelana de 59 anos, vive em Gran Roque há mais de 40 anos. Ela é uma entusiasta de Chávez e sua pousada expõe um grande mural do "Comandante". "Tenho muita confiança em Chávez", disse ela. "Ele é o único presidente que colou Los Roques sob uma lupa."
Muitos na ilha acreditam que os alvos reais da mordacidade de Chávez são os ricos empresários venezuelanos, alguns dos quais possuem casas de veraneio na pequena ilha de Madrisqui, a dois minutos de barco de Gran Roque.
Rumores dão conta que empresários em pânico estão tentando se desvincular da propriedade de casas luxuosas por medo de expropriação nas próximas semanas.
Armando Loynaz, que toma conta de algumas casas de veraneio em Madrisqui, diz que isso não é verdade. Mas ele alerta que o maior fluxo de turistas poderia causar problemas. "A questões ambientais que vão surgir são enormes", aponta ele.
As dúvidas também preocupam mergulhadores. "O que vai acontecer com os corais?" questiona um. "Aqui é um lugar lindo, mas precisamos ter cuidado."
O empresário Javier Alvarez usa seu iate de 74 pés para navegar pelas águas quentes de Francisqui. São barcos como este que Chávez pretende tornar propriedade do Estado e usar como transporte para turistas. "Expropriar um barco é completamente absurdo", argumenta ele. "Não vejo como eles podem tirar algo que você trabalhou duro para comprar."
Diego Arria, ex-ministro do Turismo durante a gestão que tornou Los Roques um parque nacional em 1972, é um crítico voraz de Chávez. Sua própria fazenda foi expropriada pelo governo no ano passado. "A política é apenas tentar atingir as pessoas ricas", explicou Arria, ex-embaixador da Venezuela nas Nações Unidas. "Mas está atingindo na verdade as pessoas que trabalham para os ricos."