Yungas, Bolívia (AE) Nas regiões andinas de Yungas e Chapare, cerca de 100 quilômetros de La Paz, os cocaleiros até que tentaram aderir ao programa de substituição dos cultivos de coca, financiado pelo governo dos EUA a partir da década de 90. Tentaram, mas desistiram; tanto por razões econômicas, quanto culturais. Na região considerada reduto eleitoral de Evo Morales, presidenciável mais bem cotado nas eleições de hoje, quase todos acabaram voltando, sob supervisão das Nações Unidas (ONU) para a planta que contém o princípio ativo da cocaína.
Indígena aimará, María del Sol é uma pequena agricultora de Yungas. Sua propriedade tem pouco mais de mil metros quadrados. Dona María, que mora num casebre de barro com três filhos, explica que ganha com a coca quase três vezes mais que com o café, que chegou a plantar em 2000.
Toda a produção legal de coca da região de Yungas tem de ser vendida no Mercado de Coca de La Paz. Além de serem usadas em chás e pomadas, as folhas são mascadas pelos indígenas para amenizar os efeitos dos 3.600 metros de altitude.
"Minha coca é vendida apenas para o mercado legal. O que eles fazem depois que ela chega lá, não sei", diz dona María.
Legalmente, os agricultores das regiões de Yungas e do Chapare estão autorizados a colher 12 mil hectares de folhas de coca por safra, a cada três meses. Segundo a ONU, a quantidade é suficiente para abastecer o mercado legal. Mas, só no ano passado, a organização detectou 27.700 hectares de lavouras ilegais.
A razão é mais que econômica. Para as quatro colheitas anuais, a coca não requer cuidados especiais; resiste bem às pragas e ao clima úmido da região andina. Diante das vantagens, nenhum produtor parece preocupado com os efeitos sociais da cocaína em outros países do mundo.
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