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OGM

Plantio de transgênicos cresce em países pobres

Curitiba – Mesmo diante das polêmicas sobre o uso de organismos geneticamente modificados (OGMs), as lavouras de transgênicos não param de crescer em todo o mundo. É o que aponta o relatório da organização não-governamental ISAAA – Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações Agro-biotech, apresentado esta semana em São Paulo pelo presidente e fundador da entidade Clive James.

Mais de 50 vezes: esse foi o crescimento global da área de lavouras transgênicas, que saltou de 1,7 milhão de hectares cultivados em seis países (em 1996, quando começou a comercialização dos OGMs) para 90 milhões de hectares em 21 países em 2005, aponta o estudo. São 8,5 milhões de fazendeiros atuando em plantações transgênicas, sendo 90% deles em países em desenvolvimento. "O aumento na taxa de adoção sem precedentes reflete os benefícios para os produtores e a sociedade", argumenta James.

A soja tolerante à herbicida lidera o ranking mundial, correspondendo a 60% da produção transgênica. Já o milho resistente a insetos ocupa a segunda posição, com 13%.

James destacou que, em 2005, o Irã realizou a primeira plantação de arroz transgênico. "É uma das lavouras mais importantes porque serve de alimento básico para 1,3 bilhão de pessoas pobres no mundo. A introdução do arroz geneticamente modificado pode contribuir para se alcançar as metas do milênio, que prevê a redução da fome em 50% até 2015." Se pensava, comenta James, que a tecnologia dos transgênicos só seria utilizada em países ricos, "hoje 38% da área semeada com OGMs estão concentradas em países em desenvolvimento."

Em 2005, estima-se que dois terços, ou seja, 14 dos 21 países que possuem lavouras transgênicas são considerados "mega-países", aqueles que plantam 50 mil hectares ou mais (veja infográfico). Quem lidera a lista são os Estados Unidos, que representam 55% da produção mundial de transgênicos, seguidos pela Argentina (19%) e Brasil (10%), segundo o relatório. O Brasil possui 9,4 milhões de hectares de plantações transgênicas, contra os 4,4 milhões em 2004.

A Espanha é o único país da União Européia (UE) com uma significativa plantação de transgênicos, diz James. "Portugal, Alemanha e França retomaram o plantio em área modesta após ausência de quase 5 anos." Apesar de considerar uma tendência o uso dos OGMs na UE, James comenta que o incentivo europeu é menor para este tipo de plantação. "O pouco interesse dos europeus também se deve ao excedente de alimentos na região."

Anderson Galvão, representante da ISAAA no Brasil, acredita que irá ocorrer com os OGMs algo semelhante ao milho híbrido na década de 40. "Houve muito receio sobre o consumo, mas as pessoas e entidades se deram conta de que não havia problema." Na história recente, diz Galvão, não houve tecnologia tão pesquisada sobre seus impactos na saúde humana e meio ambiente. "Não há evidências de que os transgênicos causem mal à saúde." Para Galvão, a resistência aos transgênicos diminuirá à medida que o consumidor perceba os benefícios diretos do alimento, com maior teor nutricional, por exemplo.

Maria Lúcia Carneiro Vieira, professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo, comenta que a preocupação da UE é sobre qual seria a agressão que uma nova proteína, presente nos OGMs, traria ao meio ambiente, seres humanos e animais.

Se têm hoje apenas dois novos genes que foram introduzidos em 4 culturas (milho, algodão, soja e canola), explica Maria Lucia. "Todos passaram por rigorosos testes durante cinco anos. Não há risco. Existe uma polêmica além da conta, afinal ainda é uma tecnologia restrita."

A UE não tem claro se quer adotar os transgênicos ou não, comenta Maria Lucia. "Na medida que a maior parte da produção é de soja transgênica, quem vende o produto não modificado também garante o seu mercado."

A partir do momento que os europeus desenvolverem sua própria tecnologia para transgênicos é bem provável que passem a utilizá-la, diz Alda Lerayer, secretaria-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB).

Alda defende a realização de campanhas educativas para desmistificar o uso dos transgênicos. "A cada caso genético são realizados estudos para testar a segurança do produto."

No Brasil, as pesquisas com os transgênicos tendem a se intensificar a partir deste ano. A nova Lei de Biossegurança do país, aprovada pelo Congresso em março do ano passado, só foi regulamentada em dezembro.

ß Keyse Caldeira

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