Depois de ter sido afastado do governo líbio pela perseguição dos rebeldes e das forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o coronel Muamar Kadafi foi capturado na última quinta-feira e morto de forma violenta.
Em 2003, Saddam Hussein (1937-2006) foi deposto no Iraque, após a invasão pelos norte-americanos, e três anos depois acabou condenado à forca pelo Superior Tribunal Penal de seu país.
Na Europa, décadas antes, o italiano Benito Mussolini (1883-1945) foi linchado pela multidão e seu corpo exposto em praça pública. Os três cumpriram o destino dos ditadores que se agarram ao poder até o fim: ao resistir em abrir mão do controle sobre seus países, provocaram a fúria da população e geraram situações extremas.
Em janeiro deste ano, Ben Ali, da Tunísia, foi o primeiro ditador a ser vencido pela Primavera Árabe, fugindo para a Arábia Saudita. Em fevereiro, Hosni Mubarak, do Egito, também acabou entregando o cargo e chegou a comparecer para o julgamento no Cairo deitado em uma maca, dentro de uma cela, construída para que ele comparecesse ao tribunal.
Diante da realidade de transições nem sempre tão confortáveis para os rígidos mandatários, os ditadores do século 21 fazem tudo que podem e que só eles podem para se manter no poder. Em uma rápida busca na internet é possível encontrar informações sobre pelo menos 20 ditaduras que persistem no mundo, dez delas só na África. Esses números já foram maiores.
Segundo Wilson Maske, professor de História Contemporânea da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), neste século, há uma tendência menor de existirem ditaduras no modelo clássico. "Temos hoje semiditadores, que usam o populismo, fazem concessões à população muito carente, com baixo grau de instrução. Países como Irã, Cuba e China têm alguns elementos de democracia, mas não são democracia plena", diz Maske.
Sob pressão
A comunidade internacional pode contribuir para que os regimes ditatoriais cheguem ao fim, como a presença da Otan na Líbia ou a pressão da Organização das Nações Unidas (ONU) para que se investigue se Bashar Assad está cometendo crimes contra a humanidade na Síria.
"Não se pode ignorar o papel das pressões internacionais sobre os regimes ditatoriais existentes, mas essas pressões não são um fator decisivo para explicar as transições de regimes no mundo atual", diz o professor Alexsandro Pereira, Coordenador do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade Federal do Paraná (Nepri/UFPR).
Segundo Pereira, as mudanças na ordem global também influenciam a existência ou não de democracia nos países "é possível observar a intensificação dos processos de interconexão entre as diferentes sociedades; atores não estatais (como organizações não governamentais e movimentos sociais); e agentes econômicos, como empresas e investidores estrangeiros".
Imperialismo
Maske explica que o fato de os países africanos concentrarem a maioria das ditaduras existentes no mundo hoje ainda é resquício da proximidade que os povos deste continente tiveram com o imperialismo europeu: "Os países foram criados com fronteiras artificiais, com etnias diferentes e não existe sentimento nacional unificado".
Além disso, a realidade social afeta a condição das populações lutarem por seus direitos. "Pobreza e miséria não são bons para o florescimento de democracia", diz Maske.