Os remanescentes
Confira alguns dos ditadores que estão há mais tempo no poder ou que têm mais evidência no cenário mundial
Iêmen - Ali Abdullah Saleh
Em junho deste ano o presidente iemenita foi para a Arábia Saudita com a justificativa de se tratar de ferimentos após um ataque ao palácio presidencial. Retornou ao seu país em setembro e insiste em permanecer no poder a despeito dos protestos que pedem sua renúncia.
- 33 anos no poder / IDH*=133
Guiné Equatorial - Teodoro Obiang Nguema Mbasogo
O oitavo político mais rico do mundo, segundo a revista Forbes, possui uma fortuna estimada em US$600 milhões. Foi antecedido no poder por seu tio Francisco Macías Nguema, que ficou 11 anos no poder. Teodoro Obiang o derrubou com um golpe de Estado.
32 anos no poder / IDH=117
Angola - José Eduardo dos Santos
No poder desde a morte de Agostinho Neto. Venceu eleições sob suspeita de fraude em 1992. A nova Constituição de 2010 determina que o mandato presidencial deve durar cinco anos, com direito a uma reeleição. A Lei começa a vigorar em 2012 e Santos ainda poderá ficar no poder até 2020.
32 anos no poder / IDH=146
Irã - Ali Khamene
Aiatolá e líder supremo do país. Apesar de o presidente Mahmoud Ahmadinejad ter sido escolhido por voto popular, a maioria das decisões do país são tomadas pelo líder religioso, o que torna o país uma teocracia.
21 anos no poder/ IDH=70
Coreia do Norte - Kim Jong-Il
O líder do país considerado o regime comunista mais fechado do mundo, é sucessor de seu pai Kim Il-sung. Segundo analistas, ele estaria preparando seu filho Kim Jong-um para lhe suceder no cargo.
17 anos no poder / IDH indisponível
Bielo-Rússia - Alexander Lukashenko
Chamado de o "último ditador da Europa", foi reeleito em dezembro de 2010 para mais um mandato. Há suspeitas de que o processo tenha sido fraudado e candidatos de oposição chegaram a ser presos após o fechamento das urnas.
17 anos no poder / IDH=61
Síria - Bashar al-Assad
Sucedeu seu pai, Hafez al-Assad,que ocupou a presidência da Síria por quase 30 anos. Resiste aos protestos da Primavera Árabe que chegaram ao seu país. Segundo a ONU, há indícios de crime contra a humanidade na sua reação aos protestos. 11 anos no poder / IDH=111
Arábia Saudita - Abdallah bin Abdul Aziz Al-Saud
Sucessor de seu meio-irmão, faz parte da dinastia Al-Saud, que está há quase 80 anos no poder.
Desde 2005, a Arábia Saudita passou a realizar eleições municipais. E neste ano o rei anunciou que as mulheres poderão votar em 2015.
6 anos no poder / IDH=55
Cuba - Raúl Castro
Foi escolhido pela assembleia cubana para ser o sucessor de seu irmão, Fidel Castro. Tem implementado medidas que sinalizam a abertura econômica de Cuba. Neste mês anunciou que considera a possibilidade de limitar o tempo do mandato presidencial.
3 anos no poder / IDH=53
* Índice de Desenvolvimento Humano de acordo com o ranking do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Quanto mais perto de 1, mais desenvolvido é o país. A posição do Brasil é 73.
Depois de ter sido afastado do governo líbio pela perseguição dos rebeldes e das forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o coronel Muamar Kadafi foi capturado na última quinta-feira e morto de forma violenta.
Em 2003, Saddam Hussein (1937-2006) foi deposto no Iraque, após a invasão pelos norte-americanos, e três anos depois acabou condenado à forca pelo Superior Tribunal Penal de seu país.
Na Europa, décadas antes, o italiano Benito Mussolini (1883-1945) foi linchado pela multidão e seu corpo exposto em praça pública. Os três cumpriram o destino dos ditadores que se agarram ao poder até o fim: ao resistir em abrir mão do controle sobre seus países, provocaram a fúria da população e geraram situações extremas.
Em janeiro deste ano, Ben Ali, da Tunísia, foi o primeiro ditador a ser vencido pela Primavera Árabe, fugindo para a Arábia Saudita. Em fevereiro, Hosni Mubarak, do Egito, também acabou entregando o cargo e chegou a comparecer para o julgamento no Cairo deitado em uma maca, dentro de uma cela, construída para que ele comparecesse ao tribunal.
Diante da realidade de transições nem sempre tão confortáveis para os rígidos mandatários, os ditadores do século 21 fazem tudo que podem e que só eles podem para se manter no poder. Em uma rápida busca na internet é possível encontrar informações sobre pelo menos 20 ditaduras que persistem no mundo, dez delas só na África. Esses números já foram maiores.
Segundo Wilson Maske, professor de História Contemporânea da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), neste século, há uma tendência menor de existirem ditaduras no modelo clássico. "Temos hoje semiditadores, que usam o populismo, fazem concessões à população muito carente, com baixo grau de instrução. Países como Irã, Cuba e China têm alguns elementos de democracia, mas não são democracia plena", diz Maske.
Sob pressão
A comunidade internacional pode contribuir para que os regimes ditatoriais cheguem ao fim, como a presença da Otan na Líbia ou a pressão da Organização das Nações Unidas (ONU) para que se investigue se Bashar Assad está cometendo crimes contra a humanidade na Síria.
"Não se pode ignorar o papel das pressões internacionais sobre os regimes ditatoriais existentes, mas essas pressões não são um fator decisivo para explicar as transições de regimes no mundo atual", diz o professor Alexsandro Pereira, Coordenador do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade Federal do Paraná (Nepri/UFPR).
Segundo Pereira, as mudanças na ordem global também influenciam a existência ou não de democracia nos países "é possível observar a intensificação dos processos de interconexão entre as diferentes sociedades; atores não estatais (como organizações não governamentais e movimentos sociais); e agentes econômicos, como empresas e investidores estrangeiros".
Imperialismo
Maske explica que o fato de os países africanos concentrarem a maioria das ditaduras existentes no mundo hoje ainda é resquício da proximidade que os povos deste continente tiveram com o imperialismo europeu: "Os países foram criados com fronteiras artificiais, com etnias diferentes e não existe sentimento nacional unificado".
Além disso, a realidade social afeta a condição das populações lutarem por seus direitos. "Pobreza e miséria não são bons para o florescimento de democracia", diz Maske.
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