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África do Sul

Polícia alega legítima defesa em maior massacre desde o Apartheid

Mulheres e parentes dos mineiros atacados por policiais protestam na entrada da mina em Marikana, na África do Sul | Reuters/Siphiwe Sibeko
Mulheres e parentes dos mineiros atacados por policiais protestam na entrada da mina em Marikana, na África do Sul (Foto: Reuters/Siphiwe Sibeko)

A polícia sul-africana alegou nesta sexta-feira (17) ter agido em legítima defesa em uma operação repressiva - a mais sangrenta desde o fim do Apartheid, em 1994 - que deixou, segundo seu próprio registro, 34 mineiros grevistas mortos e cerca de 80 feridos.

"O grupo de militantes atacou a polícia, disparando e brandindo armas perigosas", sustentou a chefe policial, Riah Phiyega, ao se referir aos confrontos ocorridos na quinta-feira (17) em Marikana (noroeste) com os grevistas na mina de platina Lonmin.

"A polícia se retirou sistematicamente e se viu forçada a recorrer à força máxima para se defender. O registro é de 34 mortos e mais de 78 feridos", assim como de 259 detidos, acrescentou.

Este é o primeiro balanço oficial dos confrontos. Uma fonte do sindicato havia informado anteriormente a morte de 36 mineiros.

O movimento, considerado ilegal, começou com uma reivindicação de um grupo de mineiros que exigia que seu salário, atualmente de 4 mil rands mensais (US$ 486), fosse triplicado.

O massacre provocou comoção mundial, já que muitas redes de televisão cobriam as negociações com os grevistas quando a operação teve início.

As imagens mostram os agentes abrindo fogo contra manifestantes, que caem em meio a uma nuvem de poeira.

Phiyega mostrou outros vídeos, nos quais é possível ver policiais se esforçando para dispersar os mineiros, negociando com eles e recorrendo a armas convencionais de dispersão de manifestações, como canhões de água e balas de borracha.

De qualquer forma, esta foi a intervenção policial mais sangrenta desde 1985, quando a polícia matou 20 manifestantes negros que protestavam contra o regime segregacionista do Apartheid.

Desta vez, foram policiais negros que abriram fogo contra mineiros também negros, cujas condições materiais de vida sofreram escassas melhorias desde a instauração de uma democracia multirracial, há 18 anos.

A greve de Lonmin, que começou há uma semana, já havia deixado dez mortos antes de quinta-feira, em supostos confrontos entre dois sindicatos: o Sindicato de Mineiros e Trabalhadores da Construção (AMCU, radical) e o Sindicato Nacional de Mineiros (NUM), um poderoso aliado do Congresso Nacional Africano (CNA), o partido no poder.

O presidente sul-africano, Jacob Zuma, que participava de uma cúpula regional em Moçambique, retornou às pressas nesta sexta-feira ao seu país, em um voo que o levou diretamente a Rustenburg, a cidade mais próxima à mina.

Nesta sexta-feira, em meio às casas de madeira e depósitos da riquíssima mina, cerca de cem mulheres denunciavam a violência policial, com os cantos e danças utilizados há duas décadas para acusar o Apartheid.

"A polícia veio aqui para matar nossos maridos, nossos irmãos. Nossos filhos!", gritava uma delas, Nokuselo Mciteni, de 42 anos.

Cerca de 2 mil mineiros voltaram a se reunir, alguns com barras de ferro e paus.

Um imigrante de Moçambique, Luis Macuacua, de 35 anos, deu sua versão dos incidentes da véspera. "Estávamos reunidos, e a polícia chegou para nos expulsar. Era uma guerra".

Antes dos episódios de quinta-feira (16), a direção da mina havia intimado os grevistas a retomar o trabalho na sexta-feira, sob pena de demissão.

A Lonmin afirma que a greve a impedirá provavelmente de alcançar sua meta de produção anual de 750 mil onças de platina.

A tensão social na África do Sul levou nesta sexta-feira o preço da platina ao seu nível máximo em um mês. No London Platinum and Palladium Market, às 10 horas GMT (7 horas de Brasília) a onça (28,349 gramas) era negociada a US$ 1.460,99, em alta de US$ 60 (4%) em comparação com o meio-dia de quinta-feira.

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