Mais de cem parlamentares, ministros, funcionários e jornalistas tiveram que passar a noite no Parlamento búlgaro, em Sofia, com o prédio cercado por manifestantes que protestam contra a corrupção e pedem a saída do governo socialista. As autoridades só conseguiram deixar o edifício na manhã desta quarta-feira (24), com a ajuda da polícia.
Foram mais de oito horas de cerco, até o batalhão de choque conseguir romper o bloqueio e escoltar até os ônibus as 109 pessoas, que foram retiradas sob os gritos de "máfia" e "renunciem". Barricadas haviam sido erguidas com pedras do calçamento e latas de lixo para tentar evitar o avanço dos policiais. As manifestações agitam a capital búlgara há 40 dias, mas atingiram um ponto crítico na noite desta terça-feira.
O presidente do Parlamento, Mihail Mikov, pediu que os políticos não retornem ao prédio até que a ordem seja restabelecida e, pelo menos esta quarta e na quinta-feira (25) o edifício deverá permanecer fechado.
"Os legisladores não foram eleitos para trabalhar sob pressão e ultimatos. Eles têm os mesmos direitos que os demais búlgaros", declarou Mikov.
A crise política começou com o aumento dos preços e acusações de que interesses privados estavam atingindo as instituições públicas. A Comissão Europeia pediu calma, mas os manifestantes ganharam o apoio da comissária de Justiça do bloco, Viviane Reding, que deixou de lado o tom diplomático:
"Minha simpatia vai para os cidadãos búlgaros que estão protestando nas ruas contra a corrupção. A Bulgária deve levar adiante seus esforços de reforma".
Diariamente, manifestantes têm ido às ruas da capital pedir a renúncia do governo, que tomou posse em maio. O estopim foi a nomeação de Delyan Peevski, um magnata da mídia, para a agência nacional de segurança, o que foi visto pelos búlgaros como uma ligação do governo com empresários. A indicação foi retirada, mas os protestos continuaram.
O bloqueio do Parlamento na noite de terça veio depois de o governo anunciar a decisão de fazer um empréstimo de US$ 676 milhões, elevando o déficit orçamentário a 2% do PIB. A medida foi vista pela oposição como um indício de que o Gabinete planeja aumentar os gastos em vez de implementar reformas.
"Queremos que as pessoas no Parlamento comecem a pensar como pessoas, e não apenas em seus bolsos", disse a manifestante Anna Grozdanova, que continua diante do prédio.
O governo do primeiro-ministro Plamen Oresharski se recusa a renunciar, e cerca de 200 mil pessoas já assinaram uma petição de apoio a ele. O governo anterior, de centro-direita, renunciou após protestos contra as medidas de autoridade. Oresharski, um economista independente que lidera a coalizão socialista, afirma que uma nova substituição no governo só agravaria a crise.