As três mulheres que teriam sido mantidas em cativeiro por mais de 30 anos em Londres levavam uma vida totalmente reclusa. Segundo reportagem do jornal britânico Independent nesta sexta-feira (22), uma delas só tinha permissão de sair de casa para pendurar roupa no varal e, algumas vezes, para caminhar até uma loja sob rígido controle. Um homem e uma mulher presos em conexão com o sequestro foram libertados nesta sexta-feira sob fiança. O caso foi classificado pelo primeiro-ministro David Cameron de "absolutamente terrível".
Uma das cativas teria sido retida na casa no bairro de Lambeth por toda a sua vida e privada de qualquer contato "normal" com o mundo exterior desde bebê. Outra teve assistência médica negada apesar de suspeita de derrame.
Oficiais da unidade de tráfico humano da Scotland Yard - Polícia Metropolitana de Londres - prenderam na quinta-feira (21) na casa das reféns um homem e uma mulher, ambos de 67 anos, por suspeita de escravidão e trabalho forçado doméstico.
As supostas cativas - um britânica de 30 anos, uma da Malásia de 69 e uma irlandesa de 57 - foram libertadas em 25 de outubro pela polícia, num trabalho realizado em parceria com a ONG Freedom Charity.
O estado das mulheres era de tanta fragilidade que os policiais tiveram que passar dias reunindo detalhes do suposto cativeiro antes de fazer as detenções. A polícia informou que os suspeitos não eram "cidadãos britânicos", sem fornecer mais detalhes.
Foi uma ligação telefônica para a Freedom Charity que possibilitou o resgate. A irlandesa entrou em contato com a organização após assistir a um documentário sobre casamento forçado. A Freedom Charity, por sua vez, denunciou o caso à polícia.
A fundadora da ONG Aneeta Prem disse que, após a primeira ligação, assistentes sociais e policiais foram capazes de identificar a casa das mulheres e marcar reuniões clandestinas. Segundo ela, as mulheres haviam descrito seus captores como "chefes de família", e estavam vivendo em condições terríveis.
"Elas sentiram que estavam correndo enorme risco. Eu não acredito que os vizinhos sabiam alguma coisa. Era apenas uma casa comum em uma rua comum", disse.
Segundo o Independent, a mulher não teria se identificado como vítima de escravidão doméstica no primeiro contato, nem dado nomes e endereço da casa. Ela denunciou que sua amiga tinha sofrido derrame e não estava bem, mas teve ajuda médica negada.
A polícia afirmou que ainda não sabia se a mulher de 30 anos nasceu na casa, mas ficou claro que o local tornou-se seu lar desde então, e que ela não teria recebido educação.
O detetive Kevin Hyland, da unidade de tráfico de seres humanos da polícia, afirmou que nunca tinha visto um caso de cativeiro de tantos anos. O fato de o departamento estar participando da investigação sugere que a mulher da Malásia e da Irlanda foram possivelmente traficadas para o Reino Unido, segundo o Daily Mail.
"A unidade de tráfico humano dos negócios da Polícia Metropolitana trabalha em muitos casos de servidão e trabalho forçado. Nós vimos alguns casos em que pessoas foram retidas por até 10 anos, mas nunca vimos nada dessa magnitude", afirmou.
De acordo com a Scotland Yard, ainda não se sabe muitos detalhes da vida das mulheres ao longo das três últimas décadas devido ao trauma que haviam sofrido. Não há indícios de que elas tenham sofrido abuso sexual, mas podem ter sofrido abuso mental e físico.
A operação para resgatar as mulheres só foi revelado na quinta-feira, no dia das detenções. De acordo com a ONG, a polícia planejou de esperar as mulheres do lado de fora da casa, num momento em que elas sabiam ter condições de sair.
Os detetives voltaram hoje à casa e também estão à procura de "endereços relacionados" como parte de uma rede mais ampla de investigação de escravos, disse uma fonte policial.
Segundo a polícia, as três mulheres não tinham relação entre si, mas não ficou claro se o mais jovem vítima tinha alguma relação com seus captores.