A polícia da Austrália confirmou a morte de três pessoas, entre elas o sequestrador, e quatro feridos na operação para libertar os reféns mantidos por mais de 16 horas nesta segunda-feira (15) por um suposto clérigo muçulmano em uma cafeteria do centro de Sydney.
A polícia confirmou que entre os mortos está o sequestrador, identificado como Man Haron Monis, um refugiado iraniano acusado de abuso sexual e conhecido por ter enviado cartas de ódio a familiares de soldados australianos mortos no exterior. Os outros dois mortos são reféns, cujas identidades ainda não foram divulgadas.
Momentos antes do tiroteio, ao menos seis pessoas supostamente reféns foram vistas correndo para fugir do local. Entre os 17 reféns havia uma brasileira, a personal trainer goiana Marcia Mikhael, cuja família informou no Facebook que ela está bem e em segurança. A polícia não confirmou por enquanto o número de mortes, nem o de feridos e seu estado de saúde, e se limitou a dar por encerrado o sequestro.
Após uma série de ruídos altos, a polícia invadiu o Lindt Chocolat Cafe às 2h15 de terça-feira (horário local) pouco depois de seis reféns terem saído correndo do local. Uma refém foi baleada na perna, informou o funcionário de um hospital. Depois de a polícia ter entrado no local, uma mulher em prantos saiu da loja com a ajuda de policiais e pelo menos outras duas foram retiradas em cadeira de rodas e macas.
O porta-voz do hospital Royal North Shore, Jenny Dennis, disse que uma refém ferida está em estado grave, mas estável. Uma maca saiu do café com o que parecia ser um homem sob uma camiseta ensanguentada. Um mulher com o pé coberto de sangue também saiu de maca.
A ação policial aconteceu pouco depois de o homem ter sido identificado por meios de comunicação locais como o iraniano Man Haron Monis. Ele estava no radar das autoridades há tempos. No ano passado, foi sentenciado a 300 horas de trabalhos comunitários por escrever cartas ofensivas às famílias de soldados mortos no Afeganistão. Posteriormente, ele foi indicado por participar do assassinato de sua ex-mulher. No início deste ano, foi acusado por assédio sexual a uma mulher em 2002. Ele estava livre sob fiança.
"Sua ideologia é tão forte e tão poderosa que embaça sua visão para o senso comum e a objetividade", declarou Manny Conditsis, ex-advogado de Monis, à Australian Broadcasting Corp. Segundo ele, a ação do ex-cliente não tem ligação com grupos terroristas.
Afroz Ali, imã do subúrbio predominantemente muçulmano de Bankstown, no oeste de Sydney, descreveu Haron como um homem perigoso, que provavelmente perdeu o controle por causa de seus contínuos problema com as autoridades australianas.
Ali disse que Haron é iraniano, mas é visto como dissidente na comunidade xiita de Sydney. "Definitivamente, ele não é reconhecido pela comunidade xiita. Ele vem operando de forma oculta", declarou Ali, pouco antes do fim do cerco ao café.
O cerco teve início por volta das 9h45 de segunda-feira em Martin Place, praça do bairro financeiro de comercial do centro de Sydney que, nesta época do ano, está cheio de pessoas fazendo compras.
Durante o dia, várias pessoas foram vistas com seus braços levantados e as mãos sobre as janelas de vidro do café. Duas pessoas seguravam uma bandeira com a Shahada, a profissão de fé islâmica, escrita em árabe.
Uma série de grupos muçulmanos australianos condenou o fato de Monis ter feito reféns em um comunicado conjunto. Esses grupos também afirmaram que a inscrição na bandeira é "um testemunho de fé que foi indevidamente apropriado por indivíduos equivocados".
Numa demonstração de solidariedade, muitos australianos se ofereceram no Twitter para acompanhar pessoas vestidas com roupas muçulmanas que estiverem com mede de retaliação por causa do evento no café. A hashtag (#) IllRideWithYou (eu andarei com você) foi usada mais 90 mil vezes na noite de segunda-feira (horário local).
O porta-voz do hospital St. Vincent, David Faktor, disse que um homem que era refém estava em estado satisfatório na emergência. Ele foi o único dos reféns libertados a ser levado para o hospital. Segundo o comissário de polícia de Nova Gales do Sul, Andrew Scipione, ele recebeu tratamento para uma doença preexistente.
Um especialista em terrorismo disse que a situação parecia ser trabalho de um "lobo solitário", que fez suas próprias exigências, em vez de um ataque orquestrado por um grupo jihadista estrangeiro.
"Não houve declarações do exterior ligando este evento com grupos extremistas de fora do país, o que é bastante positivo", disse Charles Knight, professor da Universidade Macquarie especialista em polícia, inteligência e contraterrorismo.