A tensão na fronteira greco-macedônia aumentou nesta segunda-feira (29) após a polícia macedônia utilizar gás lacrimogêneo contra centenas de migrantes que tentavam forçar a cerca fronteiriça para protestar contra o fechamento das fronteiras, uma questão que divide a União Europeia.
Mais de 7 mil migrantes e refugiados permaneciam retidos nesta segunda no posto grego de Idomeni após as restrições impostas por vários países, incluindo Macedônia, sobre o número de pessoas autorizadas a entrar em seus territórios.
Enquanto que, no domingo (28), a Macedônia deixou quase nenhum migrante atravessar, ao amanhecer desta segunda 300 iraquianos e sírios puderam finalmente entrar no país.
Ao meio-dia, outro grupo de 300 iraquianos e sírios, incluindo mulheres e crianças, forçou um cordão policial grego e derrubou parte da cerca de arame farpado que marca a fronteira com a Macedônia.
A polícia macedônia respondeu disparando gás lacrimogêneo para afastar os migrantes e impedi-los de entrar em seu território.
Segundo a ONG Médicos do Mundo (MDM), “pelo menos 30 pessoas precisaram de atendimento médico, incluindo muitas crianças”. De acordo com MDM, o atual número de migrantes em Idomeni é quatro vezes maior do que a capacidade dos dois campos, instalados perto da passagem de fronteira, e muitas pessoas têm que dormir nos campos.
Abdaljalil, um sírio de 22 anos de idade de Aleppo, diz estar desesperado: “Ninguém nos explica por que não podemos atravessar. A situação é muito difícil aqui, não há espaço nem comida (...) e eu não posso retornar para Aleppo”.
A Macedônia é o primeiro país na rota dos Balcãs, utilizada por migrantes que chegam nas ilhas gregas a partir da costa turca e que desejam chegar aos países da Europa do Norte e Central.
Plano de emergência
Depois da Áustria, o primeiro país a adotar um sistema de cotas, a Croácia e a Eslovênia, membros da UE, bem como a Macedônia e a Sérvia, decidiram na semana passada limitar o número de migrantes admitidos no seu território, provocando protestos em Atenas.
A Grécia alertou que entre 50 e 70 mil pessoas poderiam se ver bloqueadas no país em março, contra 22 mil atualmente.
A chanceler alemã Angela Merkel lamentou no domingo a decisão “unilateral” da Áustria, tomada antes de uma reunião ministerial europeia na quinta-feira passada em Bruxelas.
“Podemos acreditar seriamente que os países (da zona do) euro lutaram até o fim para que a Grécia permanecesse no euro (...) para um ano mais tarde, no final, permitir, por assim dizer, que a Grécia mergulhe no caos?”, afirmou Merkel.
A Áustria “não deve receber lição de ninguém”, respondeu a ministra do Interior austríaca, Johanna Mikl-Leitner, lembrando que foi a Alemanha que, sem anunciá-lo, começou em dezembro a filtrar os migrantes na sua fronteira com a Áustria.
Enquanto que as dissensões aumentam no seio da UE, Mina Andreeva, porta-voz da Comissão Europeia, disse nesta segunda-feira que “um plano de contingência estava sendo desenvolvido para ajudar a Grécia” e outros países da Europa ocidental, “a fim de evitar uma possível crise humanitária”.
A UE “utiliza todos os instrumentos disponíveis para reforçar as capacidades de recepção, transferência e gestão do problema nas fronteira”, assegurou.
Em Atenas, uma reunião foi marcada para esta segunda entre o ministério do Interior e a União dos municípios do país (Kede) para gerir o problema das estruturas de acolhimento.
Além dos centros de triagem e registro (hotspots) instalados nas ilhas gregas, dois campos de acolhimento foram recentemente abertos na Grécia continental, com uma capacidade de 2 mil pessoas cada atualmente.
Ex-sedes olímpicas em Hellinikon, subúrbio a sul de Atenas, também foram disponibilizadas aos migrantes.
Na França, as autoridades começaram nesta segunda-feira a desmantelar uma parte do maior campo de migrantes do país, a “selva” de Calais (norte), onde sobrevivem entre 3,7 e 7 mil pessoas, de acordo com diferentes fontes.
A evacuação da zona sul do acampamento, contestada por migrantes e associações, foi autorizada na quinta-feira pela justiça administrativa, levando ao restabelecimento pela vizinha Bélgica do controle na fronteira.
Os migrantes da “selva” deverão ser transferidos para abrigos em Calais ou em outras partes na França.