Polícia de choque de Harare dispersa jornalistas durante coletiva de imprensa do MDC| Foto: ZINYANGE AUNTONY/AFP

A primeira coletiva de imprensa do MDC (Movimento para a Mudança Democrática), principal partido de oposição, após anúncio da vitória governista nas eleições do Zimbábue foi interrompida pela polícia de choque nesta sexta-feira (3), na capital Harare. Nelson Chamisa, principal candidato da oposição, prometia revelar indícios de fraude eleitoral, promovida, segundo ele, pelo Zanu-PF, partido do presidente Emmerson Mnangagwa e fundado pelo ex-ditador Robert Mugabe.

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A polícia, batendo bastões em seus escudos, interveio diante de dezenas de repórteres e observadores eleitorais internacionais. A repressão chamou a atenção para a supressão da oposição, que caracterizou o longo governo de Mugabe - algo que Mnangagwa prometeu mudar.

Mais tarde, um advogado do MDC afirmou que houve um mal-entendido e que a polícia pensou que a oposição convocaria protestos.

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A eleição é importante para o país e poderia indicar um caminho em direção à democracia. Mas foi marcada por tumultos e alegações de fraudes desde a campanha até a contagem dos votos, que levou três dias. Na manhã desta sexta-feira, a vitória de Mnangagwa para a presidência foi declarada, causando revolta da oposição. Chamisa prometeu contestar o resultado no tribunal.

Mnangagwa evitou um segundo turno com Chamisa por uma pequena margem de menos de um ponto percentual, com apenas 50,8% do total dos votos. Seu partido, Zanu-PF, também ganhou a maioria de dois terços no parlamento. Chamisa obteve 70% na capital Harare, onde os protestos se tornaram violentos após divulgação dos resultados da eleição parlamentar.

O que está acontecendo no Zimbábue?

O dia de votação, na segunda-feira (30), foi em grande parte tranquilo, mas na quarta-feira o centro de Harare virou uma zona de guerra. Jovens cantando slogans do MDC saquearam e vandalizaram lojas no centro da cidade antes que o exército - visto por muitos como alinhado com Mnangagwa - abrisse fogo contra a multidão. Seis pessoas morreram e várias ficaram feridas. Não ficou claro se Mnangagwa ou o Zanu-PF solicitaram a intervenção militar.

No dia seguinte Harare estava deserta e forças de segurança patrulhavam as ruas. Na sexta-feira, a população de Harare retomou suas atividades, mas suas opiniões continuavam extremamente divididas em relação ao presidente de 75 anos: alguns o veem como seu salvador, enquanto outros temem que ele seja ainda pior do que Mugabe.

Soma-se a isso a grave situação econômica do Zimbábue. Depois que uma inflação descontrolada colocou no mercado notas de trilhões de dólares zimbabuanos em 2009, Mugabe adotou o dólar americano, que agora está em falta no país.

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Suspeitas de fraude

Grupos de direitos civis documentaram mais de mil casos de intimidação, compra de votos e outras práticas ilícitas eleitorais. Inúmeros rumores das várias maneiras como o Zanu-PF “manipulou” os resultados circularam nas redes sociais.

Chamisa tuitou na sexta-feira de manhã que a Comissão Eleitoral do Zimbábue havia negado o direito de MDC de verificar os resultados oficiais. No dia anterior, a polícia havia emitido um mandado de busca para a sede do partido - o que funcionários do MDC alegam ser uma tentativa de confiscar dados sobre “os resultados reais” da eleição.

“O nível de opacidade, a decadência e o déficit de valores morais é desconcertante”, escreveu Chamisa.

A forte repressão de quarta-feira contra apoiadores do MDC também deu motivos para acreditar que Mnangagwa iria trabalhar em estreita colaboração com o exército para reprimir a dissidência, algo muito parecido com o que fez Mugabe.

Durante anos, Mnangagwa foi ministro da Defesa do Zimbábue e chefe de inteligência. É acusado de orquestrar algumas das maiores atrocidades de Mugabe, incluindo massacres de dezenas de milhares de membros de um grupo étnico minoritário, a demolição de bairros com apoio da oposição e a campanha de violência que forçou o MDC a boicotar o segundo turno nas eleições de 2008.

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O porta-voz da assembleia nacional da juventude do MDC, Guta Chengetai, disse ao Washington Post que seus apoiadores estão “apenas esperando a palavra de Chamisa sobre o que fazer a seguir”.

Para forçar uma revisão dos votos, Chamisa primeiro terá que tornar públicas as evidências de fraude que ele alega possuir. Até agora, o MDC não apresentou nenhuma para jornalistas ou aos tribunais.

Na sexta-feira, a Rede de Apoio às Eleições no Zimbábue, grupo de observadores nacionais de renome, divulgou um relatório corroborando os resultados da comissão eleitoral, dizendo que estavam de acordo com suas próprias projeções. O relatório pede à Comissão para divulgar imediatamente os resultados das zonas eleitorais para garantir a transparência e neutralizar as preocupações com manipulação.