A tropa de choque da polícia tunisiana destruiu na sexta-feira um acampamento montado por manifestantes em frente à sede do governo, enquanto militantes islâmicos fizeram uma passeata no centro de Túnis exigindo liberdade religiosa.
Os manifestantes passaram cinco dias acampados em frente ao local onde despacha o primeiro-ministro, exigindo a renúncia do governo provisório que assumiu o poder após a fuga do presidente Zine al Abidine Ben Ali. Gás lacrimogêneo dispersou os manifestantes, que depois foram perseguidos pelas ruas.
Os policiais intervieram depois de serem apedrejados. O acampamento interrompia o acesso à "casbah" (cidade velha), bloqueando o comércio na área.
"É como se eles fossem um segundo Ben Ali", disse o manifestante Marwan, de 26 anos. "O Exército se aliou ao governo contra o povo."
A passeata no centro da cidade, com cerca de 200 integrantes, foi o primeiro protesto religioso significativo desde a deposição de Ben Ali, que mantinha um regime rigidamente laico, com perseguições a ativistas islâmicos.
"Queremos liberdade para o hijab, o niqab e a barba", diziam cartazes na manifestação.
Na época de Ben Ali, mulheres que usavam trajes islâmicos sobre a cabeça -- hijab ou niqab -- não tinham acesso a empregos e educação. Homens com barbas longas eram abordados pela polícia.
Os ativistas islâmicos não participaram de forma visível na rebelião popular que derrubou Ben Ali, mas o movimento religioso Ennahda ficou em segundo lugar na única eleição que pôde disputar, em 1989.
Desde que Ben Ali fugiu para a Arábia Saudita, manifestantes têm se reunido em Túnis para exigir que membros do partido governista RCD deixem o governo provisório.
Na quinta-feira, vários desses ministros foram retirados do gabinete, mas alguns manifestantes continuam exigindo a substituição do primeiro-ministro Mohamed Ghannouchi, ele próprio egresso do antigo regime.
Outros, no entanto, dizem que a reforma atende às suas reivindicações, e que já é hora de acabar com o protesto. "Acho que melhorou. Muitas portas que estavam fechadas se abriram. Quem está fazendo barulho tem um irmão ou alguém que morreu, por isso estão tão chateados", disse Raed Chawishi, de 24 anos, em frente à sede do governo.
O estudante Saifeddine Missraoui adotava um tom mais radical. "Não vamos sair daqui até que Ghannouchi saia e tenhamos um governo totalmente novo."
A rebelião tunisiana tem inspirado outros movimentos de protesto no Oriente Médio e norte da África, inclusive no Egito, que registra suas maiores manifestações em 30 anos de regime do presidente Hosni Mubarak.
Aproveitando esse fato, tunisianos protestaram também em frente à embaixada egípcia. "Hosni Mubarak deve cair", gritavam alguns manifestantes. "Hosni Mubarak, Arábia Saudita: podem aguardar", diziam outros.
Em Bruxelas, diplomatas disseram que a União Europeia deve decidir na segunda-feira congelar o patrimônio de Ben Ali e oferecer melhores termos comerciais à Tunísia.