Estudantes são presos após protestos a favor do ex-presidente Mohamed Mursi| Foto: REUTERS/Mohamed Abd El Ghany

A polícia egípcia invadiu nesta quarta-feira (30) o campus da Universidade de Al-Azhar para dispersar uma manifestação em apoio ao ex-presidente islamita Mohamed Mursi, deposto pelo Exército.

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A polícia egípcia lançou gás lacrimogêneo contra manifestantes que protestavam horas depois de as autoridades anunciarem a prisão de um líder da Irmandade Muçulmana, Essam El-Erian, como parte de uma ação repressiva contra o movimento islâmico.

Erian, vice-líder do Partido da Liberdade e Justiça, o braço político da Irmandade, foi detido em uma residência em Novo Cairo, onde estava escondido, disse à Reuters uma fonte do Ministério do Interior.

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No principal campus da universidade al-Azhar, estudantes quebraram vidros, arremessaram cadeiras e picharam as paredes de um prédio administrativo.

O ministério do Interior anunciou ter enviado agentes da polícia a pedido do presidente da universidade, um dos centros de estudos islâmicos mais prestigiados do mundo, e depois que a Promotoria aprovou tal intervenção.

Esta é a primeira vez que a polícia entra em uma universidade egípcia desde 2010.

O vice-presidente da Al-Azhar pediu pela televisão local a manutenção da presença policial no campus, onde 25 estudantes foram detidos na tarde de hoje, segundo um funcionário de alto escalão do ministério do Interior.

A agência oficial Mena informou que os policiais agiram depois que estudantes atacaram e saquearam nas últimas semanas vários escritórios da administração do centro. "Sisi é um cachorro. Abaixo, abaixo o lorde do Exército", rabiscou um manifestante, referindo-se ao chefe do Exército, general Abdel Fattah al-Sisi, que liderou a derrubada do presidente deposto Mohamed Mursi, membro da Irmandade.

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Um policial gritou: "Prendam qualquer um que vocês virem. Tragam-me esses garotos. Se vocês virem alguém, simplesmente prendam imediatamente".

Alunos da principal instituição do Egito para estudos islâmicos vêm realizando protestos há semanas em apoio a Mursi, que foi destituído pelo Exército em julho após protestos em massa contra seu governo. As manifestações na universidade al-Azhar são uma questão delicada, porque historicamente se trata de uma instituição que segue a linha governamental.

Cerco à Irmandade

Muitos líderes da Irmandade foram presos desde a derrubada de Mursi, o primeiro presidente escolhido em eleições livres no Egito. Mursi, Erian e outros 13 dirigentes da Irmandade deverão ir a julgamento na segunda-feira, pela acusação de incitamento à violência.

As acusações estão relacionadas com a morte de cerca de uma dezena de pessoas em confrontos diante do palácio presidencial, em dezembro, depois de Mursi ter deixado os manifestantes enfurecidos ao baixar um decreto aumentando os seus poderes.

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O julgamento de três dirigentes da Irmandade pelo delito de incitar a violência foi suspenso na terça-feira, depois de o juiz ter se retirado do caso por motivos não explicados.

Os julgamentos provavelmente vão provocar mais revolta no Egito, que tem um tratado de paz com Israel e controla o Canal de Suez, uma rota vital para o comércio mundial.

A Irmandade exige a recondução de Mursi ao cargo e acusa o Exército de ter dado um golpe que sabotou avanços democráticos no país desde que um levante popular derrubou o presidente autocrata Hosni Mubarak, em 2011.

Pelo menos mil pessoas, incluindo membros das forças de segurança, foram mortas na violência que se seguiu à destituição de Mursi. Centenas de seus partidários morreram quando a polícia invadiu dois acampamentos de manifestantes, em 14 de agosto.

Em setembro, uma corte egípcia baniu a Irmandade e tomou seus recursos para tentar esmagar o movimento, que o governo acusa de incitar o terrorismo.

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