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Líder do Hamas na Faixa de Gaza, Yahya Sinwar, durante sua visita à fronteira de Rafah, entre o Egito e o enclave,, em julho de 2017.
Líder do Hamas na Faixa de Gaza, Yahya Sinwar, durante sua visita à fronteira de Rafah, entre o Egito e o enclave,, em julho de 2017.| Foto: EPA/STRINGER

Antes mesmo de colocar os civis palestinos em uma grave crise humanitária ao entrar em guerra com Israel, o grupo terrorista Hamas já explorava a população residente em Gaza de outras formas, segundo revelaram documentos secretos acessados pelo jornal The New York Times, nesta semana.

De acordo com uma série de arquivos coletados pelas inteligências israelense dentro do enclave durante operações terrestres, o líder do Hamas na Faixa, Yahya Sinwar, coordenou uma "polícia secreta" para vigiar palestinos que criticassem o grupo terrorista, além de criar arquivos sobre jovens e jornalistas que vivem ou passam pela região e são vistos como uma "ameaça".

Chamada de Serviço de Segurança Geral, a unidade militar de espionagem baseia-se em relatos de uma rede de informantes dentro de Gaza, alguns dos quais denunciavam os seus próprios vizinhos à polícia secreta. Dessa forma, de acordo com os documentos, os civis tinham sua privacidade invadida pelo Hamas, que buscava evitar qualquer dissidência e desestabilização política na Faixa. Entre os mais vigiados estavam pessoas que participavam de protestos ou que eram explicitamente contrárias ao regime que controla o território.

Ao todo, o The Times revisou sete documentos da inteligência israelense, datados de outubro de 2016 a agosto de 2023, dois meses antes do conflito começar. As autoridades de Tel Aviv informaram ao jornal que há provas de que ao menos 10 mil palestinos tiveram seus perfis criados pela polícia do Hamas.

Parte dessa rede de vigilância e perseguição funcionava na internet, uma área de forte atuação da polícia supervisionada por Sinwar. Diversos jornalistas e civis foram perseguidos pelo que foi classificado como "comportamento imoral" nas conclusões dos arquivos.

Entre as estratégias para evitar a propagação de ideias que pudessem enfraquecer o movimento extremista estavam a censura, por meio da remoção de críticas das redes sociais, e a discussão de formas para difamar adversários políticos.

Uma fonte entrevistada pelo jornal americano, que conhecia o funcionamento interno do Hamas, afirmou anonimamente que o serviço secreto era um dos três órgãos mais poderosos do governo de Gaza até antes da guerra, ficando atrás somente da Inteligência Militar e do Serviço de Segurança Interna, parte do Ministério do Interior.

Os documentos também informavam sobre gastos que a milícia tinha com o serviço de vigilância. Antes do conflito, as despesas mensais registradas chagavam a US$ 120 mil (cerca de R$ 616 mil) e a unidade reunia aproximadamente 850 "funcionários".

Desse número, mais de 160 pessoas recebiam para defender o Hamas e divulgar sua propaganda, além lançar ataques nas redes sociais contra opositores ou críticos dentro e fora do enclave. Não há novas informações sobre a continuidade das atividades desse setor desde que o conflito começou.

Mas os casos de perseguição não envolviam apenas o âmbito político. Algumas descrições de processos realizados pelo Serviço de Segurança Geral nos arquivos sugerem que as autoridades do Hamas também interviam em questões pessoais de moradores da Faixa, por exemplo para determinar se estavam envolvidas em traições no casamento.

Um dos relatórios obtidos pelo New York Times também expõe que o Hamas vigiava jornalistas e organizações estrangeiras que atuavam na Faixa, por meio da criação de perfis e intimidação em caso de demonstração de ameaça.

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