Policiais turcos realizam investigações no consulado saudita em Istanbul| Foto: BULENT KILIC/AFP

Os investigadores que revistaram o consulado saudita em Istambul nesta terça-feira encontraram evidências de que o jornalista Jamal Khashoggi foi assassinado dentro do local, disse uma autoridade turca de alto escalão. O funcionário falou sob a condição de anonimato, já que a investigação ainda está em andamento. O corpo do jornalista, que era colaborador do Washington Post, teria sido desmembrado na repartição diplomática, segundo apurou a CNN junto a fontes do governo turco.

CARREGANDO :)

Autoridades sauditas afirmaram que as acusações turcas de que agentes sauditas mataram Khashoggi são "infundadas", mas a imprensa americana sugeriu, nesta terça-feira, que os sauditas podem reconhecer que o jornalista foi morto dentro do consulado, talvez como parte de um interrogatório fracassado. O jornal The New York Times disse que o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, autorizou o interrogatório, mas que pelo acordo um oficial de inteligência seria responsabilizado pela operação. 

Imagens de vigilância que foram vazadas mostram que carros diplomáticos viajaram do consulado para a casa do cônsul pouco depois do desaparecimento de Khashoggi, em 2 de outubro. 

Publicidade

Sauditas autorizam investigação turca, que foi limitada

A Turquia insistiu em fazer buscas no local desde o desaparecimento do jornalista e a autorização parece ter vindo depois de uma ligação entre o rei Salman e o presidente turco, Recep Tayip Erdogan, na noite do domingo. Em declarações após a ligação, ambos elogiaram a criação de uma investigação conjunta realizada pelos dois países. 

A equipe que realizou a inspeção incluía um promotor, um promotor adjunto, membros da polícia antiterrorismo e especialistas forenses, informou a mídia turca. Certas áreas do consulado permaneceram fora dos limites dos investigadores, embora pudessem inspecionar as câmeras de vigilância, informou a mídia turca. 

LEIA TAMBÉM: Arábia Saudita tentou atrair jornalista ao país para detê-lo

Erdogan disse a jornalistas que os investigadores procuraram vestígios de materiais "tóxicos" e sugeriu que partes do prédio do consulado podem ter sido recentemente pintadas, mas não forneceu detalhes. 

Outro local que foi investigado foi a casa do cônsul-geral saudita, Mohammad al-Otaibi, em Istambul, na Turquia, afirmou à imprensa local o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.  A agência de notícias AFP informou que Al-Otaibi deixou a Turquia em voo comercial em direção a Riad. Não houve confirmação oficial desta informação. 

Publicidade

"Minha esperança é que possamos chegar a uma conclusão que nos dê uma opinião razoável [sobre o que aconteceu ao jornalista] o quanto antes", afirmou Erdogan. 

LEIA TAMBÉM: Desaparecimento de jornalista revela ao mundo o lado sombrio do príncipe saudita

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, se encontrou com o rei Salman, da Arábia Saudita, nesta terça, para discutir o desaparecimento do jornalista. Jamal Khashoggi estava exilado nos Estados Unidos desde 2017.  Na segunda, o presidente Donald Trump especulou que Khashoggi possa ter sido morto por "matadores de aluguel", depois de conversar por telefone com Salman. 

Pompeo se encontrou ainda com o chanceler Adel al-Jubeir e jantou com o príncipe Bin Salman. Ele dever ir à Turquia na quarta (17). 

Pedido de retirada de imunidade

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu nesta terça a retirada da imunidade dos agentes sauditas que podem estar envolvidos no desaparecimento do jornalista. 

Publicidade

"Levando em consideração a gravidade da situação do desaparecimento de Khashoggi, acredito que a inviolabilidade ou a imunidade dos locais e dos funcionários envolvidos acordada por tratados como a Convenção de Viena de 1963 sobre as relações consulares teria que ser retirada imediatamente", afirmou Bachelet em um comunicado. 

VOZES DA GAZETA: Teremos a primeira distensão na relação entre EUA e Arábia Saudita?

"No direito internacional, tanto o desaparecimento forçado como as execuções extrajudiciais são crimes muito graves e a imunidade não deveria ser utilizada para apresentar obstáculos às investigações sobre o que aconteceu", completou. 

A ONU não pode, no entanto, impor a retirada da imunidade. O país de recepção, neste caso a Turquia, pode solicitar às autoridades do país de origem que retirem a imunidade de um de seus agentes diplomáticos no caso de infrações graves.