A polícia da Turquia usou gás lacrimogêneo e canhões de água para dispersar um protesto que reuniu ontem cerca de 1.500 pessoas em Soma, cidade no oeste do país onde uma explosão dentro de uma mina na última terça-feira deixou pelo menos 284 mortos.
Os manifestantes atiraram pedras e pediram a saída do premiê Recep Tayyip Erdogan. O protesto pode ter sido insuflado por declarações do governo negando negligência na mina e pela divulgação de vídeo com o premiê aparentemente agredindo um cidadão durante visita a Soma.
"Não houve negligência. A mina foi inspecionada 11 vezes desde 2009", alegou Huseyin Celik, vice-líder do AK, a legenda governista apesar de o governo ter pedido investigação parlamentar sobre os motivos do acidente.
"Vamos aprender com essa dor e corrigir nossos erros, mas não é o momento de procurar um bode expiatório", acrescentou o vice-líder.
O gerente de operações da empresa dona da mina, Akin Celik, ecoou a fala do político. "Não foi um caso de negligência. Trabalhamos com nosso coração e nossa alma. É a primeira vez em 20 anos que vejo algo assim", disse.
As declarações do governo e da empresa enfureceram mineiros e alguns moradores de Soma, que classificam o acidente de "assassinato" em razão das más condições de segurança dentro da mina.
"Nem uma criança seria convencida por essas declarações", afirmou um dos moradores, Ibrahim Ali Hasdan.
O parlamentar de oposição Ozgur Ozel disse ter pedido ao Legislativo em outubro que investigasse a segurança das minas, mas a proposta foi rejeitada. Na região de Soma, diz ele, há um acidente de mineração a cada três ou quatro meses e 11 trabalhadores morreram nos últimos três anos.
Segundo Ozel, inspeções são feitas, mas os donos das minas são avisados com antecedência.
"Há a suspeita de que essa mina [de Soma] não foi inspecionada como se deve pela ligação dos donos com o governo", afirmou.