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América central

Policiais e paramilitares reforçam repressão na Nicarágua

Homem segura caixão de uma das vítimas da repressão às manifestações contra o governo da Nicarágua | MARVIN RECINOSAFP
Homem segura caixão de uma das vítimas da repressão às manifestações contra o governo da Nicarágua (Foto: MARVIN RECINOSAFP)

Policiais e paramilitares lançaram na manhã desta terça-feira (17) uma grande ofensiva contra a cidade de Masaya, na Nicarágua, principal bastião da onda de protestos contra o regime do presidente Daniel Ortega. Ao menos um policial morreu, segundo a imprensa local. O foco das forças governista é o bairro de Monimbó, principal reduto dos manifestantes, que se protegem com barricadas e morteiros artesanais. Todos os acessos à cidade estão bloqueados. O local tem um alto valor simbólico para Ortega, um ex-guerrilheiro marxista. Em 1979, o bairro virou refúgio dos guerrilheiros de esquerda antes da bem-sucedida investida final contra a ditadura Somoza. 

Moradores da cidade relatam disparos em diversos bairros. Todos os acessos estão bloqueados. Masaya tem cerca de 160 mil habitantes e está a 30 km da capital Manágua. 

Leia também: ï»¿Forte repressão e 300 mortes: o preço de um ex-guerrilheiro para se manter no poder na Nicarágua

“Forças antimotim e de choque assediam Monimbó! Que o governo da Nicarágua pare este massacre! Por favor, irmãos de Monimbó, salvem as suas vidas!”, escreveu o bispo auxiliar de Manágua, Silvio José Baéz. 

“Há disparos por todos os lados, com fuzilaria de diversos calibres, fogo cruzado. Há uma ordem expressa de limpar Monimbó. É o ponto de conflito, que está sendo atacado”, disse o repórter-fotográfico Manuel Esquivel, do jornal La Prensa, que mora na região dos conflitos com a mulher e o filho. 

No fim de semana, uma ofensiva contra a mesma cidade deixou um saldo de ao menos 10 mortos, dos quais 4 policiais, segundo a Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (ANPDH). A ONG estima que ao menos 360 morreram durante os protestos, que completam três meses nesta semana. “É uma violência sem precedentes desde os últimos dias da ditadura de Somoza”, diz Hilary Francis, historiadora e pesquisadora da Universidade de Northumbria (Reino Unido). 

A origem dos protestos 

As marchas começaram em abril, contra uma reforma da Previdência que diminuía os benefícios e aumentava contribuições. Diante dos protestos, Ortega recuou, mas a repressão violenta alimentou mais manifestações, desta vez exigindo a renúncia do presidente esquerdista. 

“O governo batendo e ferindo aos manifestantes mais velhos gerou uma ira generalizada e os cortes propostos nas pensões estavam ocorrendo enquanto a família de Ortega e outros funcionários do governo, como o ex-presidente da comissão eleitoral, Roberto Rivas, se enriqueciam por meio da corrupção”, disse o cientista político Kai Thaler, professor assistente de Estudos Globais da Universidade da Califórnia/Santa Barbara (EUA). 

E para reforçar a pressão do governo sore os manifestantes, o Parlamento da Nicarágua aprovou na noite de segunda-feira uma lei sobre terrorismo que, segundo da ONU, poderia ser utilizada para criminalizar protestos pacíficos contra o governo de Daniel Ortega.

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