Um policial e um manifestante morreram esta quarta-feira (26) em confrontos no centro do Cairo, informaram fontes médicas, o que eleva a seis o número de mortos nos maiores protestos antigovernamentais registrados no Egito em 30 anos.
Os dois morreram na rua, depois de confrontos no distrito Bulaq Abul Ela, enquanto a polícia e manifestantes atiravam pedras uns nos outros, depois que as forças dispararam bombas de gás lacrimogêneo, acrescentaram os médicos.
Os outros mortos foram três protestantes na cidade de Suez e outro policial na capital.
Mais cedo, manifestantes antigoverno atearam fogo a um prédio governamental em Suez e tentaram queimar o escritório do partido governista na cidade, mas foram impedidos a tempo pela polícia.
O comércio teve de ser fechado na cidade, porque houve relatos de saques. Pelo menos 50 pessoas ficaram feridas em confrontos com a polícia, segundo testemunhas.
O Egito enfrenta o segundo dia de protestos populares contra o governo do presidente Hosni Mubarak. O governo havia prometido reprimir os atos, mas mesmo assim eles ocorreram na capital, Cairo, e em várias cidades.
Mais cedo, o Ministério do Interior havia informado que pelo menos 500 pessoas foram presas desde o começo das manifestações.
Entre os detidos estão 90 pessoas que se manifestavam na Praça Tahrir, centro do Cairo, e 121 membros da organização islamita Irmandade Muçulmana, oficialmente proibida, mas tolerada no país, detidos em Asiut, no sul da capital egípcia.
O primeiro-ministro Ahmed Nazif disse que o governo está comprometido com a liberdade de expressão por meios legítimos e que a polícia havia agido com moderação diante das manifestações do dia anterior.
Repercussão
A bolsa de valores do Cairo abriu nesta quarta em forte baixa, e seu principal índice perdia 5% nas primeiras horas do pregão.
A imprensa independente egípcia destacou a magnitude dos protestos.
"Milhares de pessoas se manifiestam contra o poder, o desemprego, a inflação e a corrupção, e pedem a saída do governo", era a manchete do jornal Al Masri al Yom.
Outro diário, o Al Shoruq, afirmou em sua capa: "Egito em cólera toma as ruas".
"Um vulcão de ira entrou em erupção nas ruas do Cairo", escreveu.
A imprensa oficial, por outro lado, minimizou o impacto dos protestos.
No exterior, multiplicam-se os apelos por reformas no Egito, destacando-se o papel moderador do país no conflito árabe-israelense.
Para Catherine Ashton, chefe da diplomacia da União Europeia, as manifestações são um "sinal" do anseio de milhares de egípcios por uma "mudança política" no país.
"Milhares de egípcios se concentraram nas ruas do Cairo para expressar seu desejo de uma mudança política. A UE acompanha de perto estas passeatas (...), que são um sinal dos anseios de muitos egípcios, após os acontecimentos na Tunísia", declarou Ashton nesta quarta-feira.
Além disso, destacou que as autoridades egípcias deveriam "escutar" os manifestantes, "respeitando e protegendo o direito" do povo de "manifestar suas aspirações políticas através de passeatas pacíficas".
A Casa Branca disse que o governo egípcio deve ser "sensível" às aspirações da população, e afirmou que o presidente deve "levar a cabo reformas políticas econômicas e sociais".
A França lamentou as mortes ocorridas durante as manifestações, enquanto Israel disse esperar que a rebelião egípcia não influencie negativamente as relações entre os dois países.
O Egito foi o primeiro país árabe a assinar um acordo de paz com Israel, em 1979.
Cerca de 40% dos 80 milhões de habitantes vivem com menos de US$ 2 por dia, e um terço da população é analfabeta.
Um grupo de oposição, a Juventude do 6 de Abril, usou sua página no Facebook para convocar protestos na quarta-feira e "até que Mubarak saia".
Algumas exigências políticas foram postadas no Facebook e distribuídas em filipetas na praça Tahir, antes que a polícia interviesse.
Tais exigências incluem a renúncia de Mubarak e do primeiro-ministro, a dissolução do Parlamento e a formação de um governo de unidade nacional.